terça-feira, 9 de abril de 2013

Sentimento do mundo grande

(em homenagem à Drummond)

Cheguei aqui tendo apenas duas mãos
e o sentimento do mundo.
O mundo meu.
Mas hoje, ainda aqui,
vejo que o mundo não é meu,
não, meu coração não é maior que o mundo,
É muito menor.
E eu preciso de alguém
para ir de mãos dadas.

A tempestade

Os trovões dão o tom de fúria em descompasso. A chuva dança com força com o vento.
Me tomo de medo e de uma alegria súbita. Tempestades me assustam e me encantam, são monstros adormecidos que violentamente vão acordando.
Sem eletricidade, apenas os relâmpagos iluminam-me numa fração de segundo.
Ela solta seus raios e trovões. Quero estar lá fora, sentindo-a. Mas sinto medo, muito medo.
Os rebentos ribombam dentro do meu peito. Ela vai nascendo aos poucos dentro de mim. Ela cresce no âmago. Amo-a e temo-a. Respeito. É uma divindade, não se pode compreendê-la como benigna ou maligna. Ela existe e só o que me resta é resignar-me à seu poder.
Sinto-me viva. Paro para observa-la e escutar tudo o que ela tem a dizer.
Ela é poderosa assim porque é inesperada, o que faz dela um ser extremamente autêntico. É o seu repente que a faz grandiosa: rapidamente forma-se, rapidamente acontece e mais rapidamente ainda vai embora.
Deixa sua marca e seus restos, não se sabe se é raiva ou piedade. Às vezes acho que ela é tão sábia causando toda a destruição para que possamos então nos reconstruir melhores e mais fortes.
A tempestade impõe-nos respeito e mérito: qualquer um que saia ileso à ela é considerado herói por seus próprios méritos, pois já mostra-se um ser forte por natureza.
As suas gotas arrebentam nos vidros, estralam e param por uma fração de segundo. Escorrem e derretem-se lentamente. E então, tudo vira uma pintura Impressionista no lado de fora do vidro para quem vê do lado de dentro. Arte da Natureza e tudo se desvirtua do caminho inicial.
O traço da gota que escorre lentamente pelo vidro e eventualmente tem seu caminho delicado desviado pelo vento violento e entorta-se possuído pela falta de controle sobre si.
Tudo se desvirtua do seu caminho e tudo se molha, derrete e se desfaz. Toda linha reta fica torta à seu sadismo.
Mesmo estando protegida, sinto-me desamparada durante uma tempestade. Tudo ao redor silencia-se em suas próprias coragens egoístas. Tudo ao redor silencia-se para ouvi-la e para tentar se proteger e se esconder dela.
Mais um trovão bate no infinito e o rompe. Onde é que seu eco vai parar?
Quando é que ela vai parar?
Não, eu não posso controla-la. Não posso controlar o infinito.
Não posso sequer me controlar...