A única função do Tempo é passar.
Não o culpe. Seja porque ele demore, seja porque ele passe rápido demais.
A culpa nunca foi dele. Deixe-o ir. Deixe-o ficar...
Não peça para que ele seja melhor.
Não tenho lá muita certeza se é ele que cura. Ou se ele só piora...
O Tempo só passa. E nada mais.
Ele não tem que ser amigo de ninguém.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
Furacões e Sóis
Descobri em mim uma capacidade de destruir furacões e sóis.
Não importa quando, não importa como.
Descobri em mim furacões e sóis.
Eles existem.
Não importa quando, não importa como.
Descobri em mim furacões e sóis.
Eles existem.
Ego Trip
Minha grande estreia foi no dia oito de setembro de mil novecentos e noventa e três. Às onze e cinco. É o que me contam, não sei se é verdade.
Reza a lenda que era um começo de manhã frio em que o sol não brilhou. Resolvi então nascer. Chegara a hora. Com uma semana de antecedência, se não me engano nos cálculos.
Era o meu desespero pela tal vida. A curiosidade inconsequente para saber o que havia no mundo por trás daqueles muros. Devo dizer que esse ainda ainda é um traço marcante da minha personalidade: a curiosidade.
Pois bem, para encurtar a história e também porque não sei o que se sucedeu nesse meio tempo, foi-se a família para o hospital. Não sei quem foi, nem que chegou depois. Sei que, certamente minha mãe estava lá.
Minha mãe não teve uma contração sequer.
Isso tudo que eu acabo de contar ocorreu por volta das seis.
Enquanto isso, fiquei eu, com um certo medo pelo desconhecido, à espera.
Isso é uma coisa que mete medo de verdade, o futuro. Porque o futuro é desconhecido. É inseguro e incerto. Tem coisa pior do que saber que a única certeza é a Incerteza?
E então, como já disse, às onze e cinco da manhã respirei pela primeira vez o ar dessa vida. Eu não tinha sobrancelhas.
Uma ironia, pois hoje em dia tenho sobrancelhas voluptosas se você quer saber.
Chovia. Não sei se fraco, não sei se forte. Setembro é um mês que faz frio de manhã. Contaram-me também que a maternidade estava em reforma. Fiquei no quarto com minha mãe. Foi aí que nos tornamos amigas. Coisa que somos até hoje.
Amarraram-me um lenço na cabeça por causa do frio, estava tendo dor de ouvido, coisa assim. Tive algumas questões com a dor de ouvido na infância...
Quando eu nasci, todos diziam que me parecia com meu pai.
Tinha olhos azuis. Eu, não o meu pai.
E então fui crescendo enquanto minhas fraldas eram trocadas. Tive uma Barbie de biquini dourado e descabelada. Um copo vermelho da Coca-Cola. Tinha também uma estranha mania de me entalar no berço virando meu corpo em horizontal. Conseguia equilibrar uma bola nos meus pézinhos.
Aos três meses, minha mãe me deixou sozinha em cima de uma cama e, bem, não sei a razão, o motivo ou a circunstância e acabou que eu caí-me no chão. Até hoje ninguém sabe como isso aconteceu, não há explicação, é um mistério. Não sabem se fui jogada, se me joguei... A consequência disso é que alguns parafusos de mim se soltaram. Vê? Há uma explicação plausível para eu ser assim...
E continuei crescendo. Tinha cachinhos dourados naquele momento. No meu segundo aniversário fiquei muda, não falei por um dia inteiro . Creio que de excitação, de felicidade, ansiedade, medo. Certamente de medo. Também fiquei tão feliz que acho que nem soube expressar em palavras o que estava sentindo e achei melhor me calar com medo de pode macula-lo e apreciei o sentimento no silêncio. Pois já dizia meu pai, se falar fosse bom a gente teria duas bocas e um ouvido.
Usei um vestido verde do tamanho do mundo. Um dos meus primos, o Heitor, caiu e machucou o queixo.
Algum tempo depois fui mandada para a escolinha. Tinha aí três anos. Era um lugar interessante, tinha um parquinho cheio de areia e com um escorregador pra que os pequenos pudessem brincar. Tinha uma tartaruga lá. Não me recordo seu nome, infelizmente.
Outra coisa que eu não me recordo é o porquê de eu não querer continuar lá depois do bailinho de carnaval. Não consigo me lembrar o motivo de eu não querer pertencer mais àquele lugar. Talvez tenha sido culpa da Julinha...
Julinha não me descia!
Nem lembro quem é a tal Julinha, mas lembro desse nome e lembro de meu santinho não bater com o dela.
Não consigo me recordar também da fantasia que eu usei.
Conclusão: esperei mais um ano em casa.
Um ano depois, já com olhos verdes e cabelo castanho (não sei como essas coisas mudam) fui matriculada em uma nova escolinha. Minha prima Isabela estudava lá.
Logo quando cheguei e fui apresentada, Duda logo disse:
-Meu Deus, mais uma Maria!
Pois é, na turminha já havia uma Maria Eduarda, uma Maria Luísa e uma Maria Tereza. Só a Isabela não era Maria.
Mas eu era.
E a Duda e a Isabela são minhas amigas até hoje.
A escolinha tinha cheiro de suco na garrafinha de plástico. Adorava lancheira.
Meninos e meninas usavam o mesmo banheiro.
Meu primeiro amor foi o Felipe. Mas não era correspondido.
Uma tarde, a aula já havia acabado e minha mãe estava demorando para ir me apanhar. Ela era sempre pontual e nunca atrasara antes. Todos os meus amiguinhos foram embora e eu fui a última.
A última.
Chorei até não poder mais de medo, de abandono. Minha mãe jura que ela atrasou apenas alguns minutos, mas, para mim, pareceu que eternidades se passaram até ela chegar.
Coitada de mamãe, teve que fazer muito tempo de terapia pra se livrar da culpa.
Foi traumático para nós duas.
Lá comecei a dançar ballet, do qual fui discípula por nove longos anos.
Meu segundo amor lá foi o Bruno. Esse era correspondido. Erámos namorados, uma coisa muito importante no círculo social da escolinha sim! Ele escrevia cartas para mim e eu escrevia cartas para ele. Um dia ele foi até a minha casa me levar flores.
E eu estava de pijama.
Ele mudou de escola um tempo depois, mas nosso amor não se desfez. Um dia, ele foi nos visitar na e, juro, minhas pernas nunca mais tremeram naquela velocidade com uma surpresa... Quase levantei voo.
Ele trocava as letras e falava errado.
Cresci mais um pouco e fui para uma escola maior.
Quando fui conhece-la gostei logo de cara da biblioteca. Acho que ela não tinha o cheiro de mofo que tem hoje...
No primeiro dia de aula todos os alunos da escola estavam na quadra poliesportiva. Recordo-me nitidamente da Carol chorando.
Queria ter podido consola-la, ela estava nervosa.
Carol também é minha amiga até hoje.
Havia tantas pessoas diferentes lá. Gente que eu nunca havia visto antes, o que me era incrível. E assustador também.
Houve um dia em que estávamos fazendo muito barulho e a professora reclamou, ficou brava e disse que não queria dar mais aula pra gente.
Naquele dia eu tremi na base. Fiquei com medo, triste e culpada. Mas ela não parou de dar aula pra gente. Deu até no ano seguinte...
Outro dia em que fiquei com medo, triste e culpada foi quando brincávamos de telefone-sem-fio. Chegou ao meu ouvido: “um caso com uma mulher”. Me assustei, até pedi para o menino repetir. Passei a frase à diante.
Quando a brincadeira terminou, descobriu-se que a frase original era na verdade “Você quer se comportar melhor?”. Mais uma bronca.
Levei a culpa pelo mal-entendido por muitos e muitos anos nas costas. Sempre achando que eu fora a culpada de distorcer a frase. Foi quando que, no ano passado me ocorreu que não precisava ter sido necessariamente eu que compreendi errado a frase, não é mesmo? Poderia facilmente ter sido alguém antes de mim.
Me livrava naquele momento de um trauma da infância.
Na segunda série, logo quando comecei a aprender Matemática já declaramos guerra uma à outra. Até hoje me perco fazendo as contas de divisão.
Na terceira série ganhei um prêmio (uma mochila) por ter tido um poema meu publicado em uma agenda... Ali, meu ego do tamanho do universo começou a dar seus sinais. Foi nesse ano também que meu pai me apresentou aos clássicos do Rock. Eu era fã dos Beatles aos nove anos de idade. Curtia Pink Floyd também. Fiquei inconformada quando ele me contou que John Lennon havia sido assassinado.
Por volta da sexta série meu estilo estava começando a mudar. E eu começando a descobrir que ser normal era bem chato. Virei diferente.
Aos treze, pintei meu cabelo de cor-de-rosa berrante. Essa talvez tenha sido a maior ousadia da minha vida até hoje. As opiniões eram divididas, havia pessoas que amavam e admiravam, outras, por outro lado, me achavam idiota. E não faziam questão nenhuma de esconder sua opinião.
Eu sofria. Ao mesmo tempo que me amava, me odiava. Típico de adolescência. Chorava ouvindo música. Comecei a desenvolver um certo medo das pessoas e também uma insociabilidade. Tinha poucos amigos.
Eu nunca fui a mais popular. Nunca mesmo.
Uma noite, aos prantos, confessei à minha mãe que ninguém gostava de mim porque eu não era como eles. Eu era diferente, não via problema nisso, mas não conseguia entender o porquê dos outros não me respeitarem por isso. Então, calma, minha mãe simplesmente disse:
- Vivemos numa sociedade em que, infelizmente, somos julgados pela aparência. Você escolheu ser diferente, arque com as consequências disso, seja forte.
Pode parecer duro e frio da parte dela, mas isso me confortou de uma maneira inexplicável. Após aquele momento eu entendi que o maior mal da Humanidade são os humanos.
Comecei meus primeiros rabiscos de poemas nessa época. A professora de Língua Portuguesa me incentivava muito. Guilherme adorava ler o que eu escrevia. Até hoje somos “consultores literários” um do outro.
E meu orgulho foi maior e continuei a ser o que era: diferente, graças à Deus.
Que Ele me livre de ser normal!
Pintei meu cabelo de roxo. E depois de preto. E depois de vermelho. E depois de preto de novo.
Não tenho muitas lembranças do começo da adolescência. Só lembro de ter pintado o cabelo. Foi um período bem difícil para mim. Eu tinha receio das pessoas. Não confiava muito em mim, apesar de me mostrar sempre como a pessoa mais segura das ideias.
A gente endurece o coração na adolescência para não parecer criança insegura. Queremos nos fazer de poderosos, autossuficientes. E depois descobrimos que queremos ser criança de novo. Entendi isso quando fui à Disney no ano seguinte.
Saí do ballet. Eu tinha o coração, mas não tinha os pés. Minha amiga, a Ana, continuou e dançava melhor que a professora.
Fui fazer Ioga e aprendi a meditar.
Comecei a sofrer de rinite alérgica.
No primeiro ano do Ensino Médio, meus pais resolveram se separar. Um entrou com o pé e outro com a bunda. Eles brigavam o tempo todo.
Essa é uma dor que eu não desejo ao pior inimigo. Não experimentei um sofrimento pior nesse mundo até hoje. Me sentia um equívoco na vida. Perdi as esperanças.
Quatro meses depois, meus pais voltaram a se falar, por minha causa. Eu estava adoecendo e fiquei todo esse tempo sem me encontrar com meu pai.
E, adivinha só, dois meses depois eles voltaram! Sim! Um caso em um milhão. Tive sorte? O Perdão existe, e é possível de ser alcançado. O Amor existe também.
Enveredei-me para os caminhos da dança contemporânea. E que seja perdido o dia em que não se dançou.
Aos dezesseis tive meu primeiro namorado. Ou segundo, se contarmos o pequeno Bruno...
Ele era um cara legal, era músico, tocava jazz.
Achei que passaria a gostar de jazz, mas preferi mesmo ir ao show do Tokio Hotel.
Fiquei doente nesse mesmo ano e faltei duas semanas seguidas à escola. Achei que eu fosse morrer. Tudo bem, não era pra tanto, mas não se brinca com o Citomegalovírus, entendido?
Não sei porque quando a gente se apaixona, acreditamos que o amor vai durar para sempre. Mas depois de um tempo, descobri que “pra sempre” é tempo demais... Gostaria conhecer o tal amor da minha vida no último momento da minha existência aqui. No último suspiro. Aí sim o “pra sempre” é de fato para sempre.
A morte nos torna eternos.
Comecei a ler Clarice Lispector no ano passado. Hoje já somos íntimas.
Meu dente do siso começou a dar seus primeiros sinais de chegada.
E finalmente chegamos ao dia de hoje. Neste momento, numa madrugada quente de verão. Estou sem sono.
Estou com medo. Estou num momento de mudança. Quase um rito de passagem. Estou desesperançada e ao mesmo tempo cheia de esperança com o que está por vir. Estou extremamente curiosa para saber o que há por trás dos meus muros, mais uma vez.
Mudar é difícil, mas a repercução futura é sempre incrível.
Mas, sabe, eu posso ter medo de muita coisa nessa vida. Mas de dar a cara pra bater, isso eu não tenho medo mesmo.
Veja só quantas vezes eu já mudei nessa vida. Nunca desisti de mim.
Não consigo nem sequer imaginar o que está por vir. É o mesmo sentimento de nascer... Depois de tanto tempo estou nascendo de novo. A alma é imortal. E, como disse o poeta, tudo vale a pena quando ela não é pequena.
E de novo. E de novo.
Estou pensando seriamente em pintar meu cabelo de azul...
Reza a lenda que era um começo de manhã frio em que o sol não brilhou. Resolvi então nascer. Chegara a hora. Com uma semana de antecedência, se não me engano nos cálculos.
Era o meu desespero pela tal vida. A curiosidade inconsequente para saber o que havia no mundo por trás daqueles muros. Devo dizer que esse ainda ainda é um traço marcante da minha personalidade: a curiosidade.
Pois bem, para encurtar a história e também porque não sei o que se sucedeu nesse meio tempo, foi-se a família para o hospital. Não sei quem foi, nem que chegou depois. Sei que, certamente minha mãe estava lá.
Minha mãe não teve uma contração sequer.
Isso tudo que eu acabo de contar ocorreu por volta das seis.
Enquanto isso, fiquei eu, com um certo medo pelo desconhecido, à espera.
Isso é uma coisa que mete medo de verdade, o futuro. Porque o futuro é desconhecido. É inseguro e incerto. Tem coisa pior do que saber que a única certeza é a Incerteza?
E então, como já disse, às onze e cinco da manhã respirei pela primeira vez o ar dessa vida. Eu não tinha sobrancelhas.
Uma ironia, pois hoje em dia tenho sobrancelhas voluptosas se você quer saber.
Chovia. Não sei se fraco, não sei se forte. Setembro é um mês que faz frio de manhã. Contaram-me também que a maternidade estava em reforma. Fiquei no quarto com minha mãe. Foi aí que nos tornamos amigas. Coisa que somos até hoje.
Amarraram-me um lenço na cabeça por causa do frio, estava tendo dor de ouvido, coisa assim. Tive algumas questões com a dor de ouvido na infância...
Quando eu nasci, todos diziam que me parecia com meu pai.
Tinha olhos azuis. Eu, não o meu pai.
E então fui crescendo enquanto minhas fraldas eram trocadas. Tive uma Barbie de biquini dourado e descabelada. Um copo vermelho da Coca-Cola. Tinha também uma estranha mania de me entalar no berço virando meu corpo em horizontal. Conseguia equilibrar uma bola nos meus pézinhos.
Aos três meses, minha mãe me deixou sozinha em cima de uma cama e, bem, não sei a razão, o motivo ou a circunstância e acabou que eu caí-me no chão. Até hoje ninguém sabe como isso aconteceu, não há explicação, é um mistério. Não sabem se fui jogada, se me joguei... A consequência disso é que alguns parafusos de mim se soltaram. Vê? Há uma explicação plausível para eu ser assim...
E continuei crescendo. Tinha cachinhos dourados naquele momento. No meu segundo aniversário fiquei muda, não falei por um dia inteiro . Creio que de excitação, de felicidade, ansiedade, medo. Certamente de medo. Também fiquei tão feliz que acho que nem soube expressar em palavras o que estava sentindo e achei melhor me calar com medo de pode macula-lo e apreciei o sentimento no silêncio. Pois já dizia meu pai, se falar fosse bom a gente teria duas bocas e um ouvido.
Usei um vestido verde do tamanho do mundo. Um dos meus primos, o Heitor, caiu e machucou o queixo.
Algum tempo depois fui mandada para a escolinha. Tinha aí três anos. Era um lugar interessante, tinha um parquinho cheio de areia e com um escorregador pra que os pequenos pudessem brincar. Tinha uma tartaruga lá. Não me recordo seu nome, infelizmente.
Outra coisa que eu não me recordo é o porquê de eu não querer continuar lá depois do bailinho de carnaval. Não consigo me lembrar o motivo de eu não querer pertencer mais àquele lugar. Talvez tenha sido culpa da Julinha...
Julinha não me descia!
Nem lembro quem é a tal Julinha, mas lembro desse nome e lembro de meu santinho não bater com o dela.
Não consigo me recordar também da fantasia que eu usei.
Conclusão: esperei mais um ano em casa.
Um ano depois, já com olhos verdes e cabelo castanho (não sei como essas coisas mudam) fui matriculada em uma nova escolinha. Minha prima Isabela estudava lá.
Logo quando cheguei e fui apresentada, Duda logo disse:
-Meu Deus, mais uma Maria!
Pois é, na turminha já havia uma Maria Eduarda, uma Maria Luísa e uma Maria Tereza. Só a Isabela não era Maria.
Mas eu era.
E a Duda e a Isabela são minhas amigas até hoje.
A escolinha tinha cheiro de suco na garrafinha de plástico. Adorava lancheira.
Meninos e meninas usavam o mesmo banheiro.
Meu primeiro amor foi o Felipe. Mas não era correspondido.
Uma tarde, a aula já havia acabado e minha mãe estava demorando para ir me apanhar. Ela era sempre pontual e nunca atrasara antes. Todos os meus amiguinhos foram embora e eu fui a última.
A última.
Chorei até não poder mais de medo, de abandono. Minha mãe jura que ela atrasou apenas alguns minutos, mas, para mim, pareceu que eternidades se passaram até ela chegar.
Coitada de mamãe, teve que fazer muito tempo de terapia pra se livrar da culpa.
Foi traumático para nós duas.
Lá comecei a dançar ballet, do qual fui discípula por nove longos anos.
Meu segundo amor lá foi o Bruno. Esse era correspondido. Erámos namorados, uma coisa muito importante no círculo social da escolinha sim! Ele escrevia cartas para mim e eu escrevia cartas para ele. Um dia ele foi até a minha casa me levar flores.
E eu estava de pijama.
Ele mudou de escola um tempo depois, mas nosso amor não se desfez. Um dia, ele foi nos visitar na e, juro, minhas pernas nunca mais tremeram naquela velocidade com uma surpresa... Quase levantei voo.
Ele trocava as letras e falava errado.
Cresci mais um pouco e fui para uma escola maior.
Quando fui conhece-la gostei logo de cara da biblioteca. Acho que ela não tinha o cheiro de mofo que tem hoje...
No primeiro dia de aula todos os alunos da escola estavam na quadra poliesportiva. Recordo-me nitidamente da Carol chorando.
Queria ter podido consola-la, ela estava nervosa.
Carol também é minha amiga até hoje.
Havia tantas pessoas diferentes lá. Gente que eu nunca havia visto antes, o que me era incrível. E assustador também.
Houve um dia em que estávamos fazendo muito barulho e a professora reclamou, ficou brava e disse que não queria dar mais aula pra gente.
Naquele dia eu tremi na base. Fiquei com medo, triste e culpada. Mas ela não parou de dar aula pra gente. Deu até no ano seguinte...
Outro dia em que fiquei com medo, triste e culpada foi quando brincávamos de telefone-sem-fio. Chegou ao meu ouvido: “um caso com uma mulher”. Me assustei, até pedi para o menino repetir. Passei a frase à diante.
Quando a brincadeira terminou, descobriu-se que a frase original era na verdade “Você quer se comportar melhor?”. Mais uma bronca.
Levei a culpa pelo mal-entendido por muitos e muitos anos nas costas. Sempre achando que eu fora a culpada de distorcer a frase. Foi quando que, no ano passado me ocorreu que não precisava ter sido necessariamente eu que compreendi errado a frase, não é mesmo? Poderia facilmente ter sido alguém antes de mim.
Me livrava naquele momento de um trauma da infância.
Na segunda série, logo quando comecei a aprender Matemática já declaramos guerra uma à outra. Até hoje me perco fazendo as contas de divisão.
Na terceira série ganhei um prêmio (uma mochila) por ter tido um poema meu publicado em uma agenda... Ali, meu ego do tamanho do universo começou a dar seus sinais. Foi nesse ano também que meu pai me apresentou aos clássicos do Rock. Eu era fã dos Beatles aos nove anos de idade. Curtia Pink Floyd também. Fiquei inconformada quando ele me contou que John Lennon havia sido assassinado.
Por volta da sexta série meu estilo estava começando a mudar. E eu começando a descobrir que ser normal era bem chato. Virei diferente.
Aos treze, pintei meu cabelo de cor-de-rosa berrante. Essa talvez tenha sido a maior ousadia da minha vida até hoje. As opiniões eram divididas, havia pessoas que amavam e admiravam, outras, por outro lado, me achavam idiota. E não faziam questão nenhuma de esconder sua opinião.
Eu sofria. Ao mesmo tempo que me amava, me odiava. Típico de adolescência. Chorava ouvindo música. Comecei a desenvolver um certo medo das pessoas e também uma insociabilidade. Tinha poucos amigos.
Eu nunca fui a mais popular. Nunca mesmo.
Uma noite, aos prantos, confessei à minha mãe que ninguém gostava de mim porque eu não era como eles. Eu era diferente, não via problema nisso, mas não conseguia entender o porquê dos outros não me respeitarem por isso. Então, calma, minha mãe simplesmente disse:
- Vivemos numa sociedade em que, infelizmente, somos julgados pela aparência. Você escolheu ser diferente, arque com as consequências disso, seja forte.
Pode parecer duro e frio da parte dela, mas isso me confortou de uma maneira inexplicável. Após aquele momento eu entendi que o maior mal da Humanidade são os humanos.
Comecei meus primeiros rabiscos de poemas nessa época. A professora de Língua Portuguesa me incentivava muito. Guilherme adorava ler o que eu escrevia. Até hoje somos “consultores literários” um do outro.
E meu orgulho foi maior e continuei a ser o que era: diferente, graças à Deus.
Que Ele me livre de ser normal!
Pintei meu cabelo de roxo. E depois de preto. E depois de vermelho. E depois de preto de novo.
Não tenho muitas lembranças do começo da adolescência. Só lembro de ter pintado o cabelo. Foi um período bem difícil para mim. Eu tinha receio das pessoas. Não confiava muito em mim, apesar de me mostrar sempre como a pessoa mais segura das ideias.
A gente endurece o coração na adolescência para não parecer criança insegura. Queremos nos fazer de poderosos, autossuficientes. E depois descobrimos que queremos ser criança de novo. Entendi isso quando fui à Disney no ano seguinte.
Saí do ballet. Eu tinha o coração, mas não tinha os pés. Minha amiga, a Ana, continuou e dançava melhor que a professora.
Fui fazer Ioga e aprendi a meditar.
Comecei a sofrer de rinite alérgica.
No primeiro ano do Ensino Médio, meus pais resolveram se separar. Um entrou com o pé e outro com a bunda. Eles brigavam o tempo todo.
Essa é uma dor que eu não desejo ao pior inimigo. Não experimentei um sofrimento pior nesse mundo até hoje. Me sentia um equívoco na vida. Perdi as esperanças.
Quatro meses depois, meus pais voltaram a se falar, por minha causa. Eu estava adoecendo e fiquei todo esse tempo sem me encontrar com meu pai.
E, adivinha só, dois meses depois eles voltaram! Sim! Um caso em um milhão. Tive sorte? O Perdão existe, e é possível de ser alcançado. O Amor existe também.
Enveredei-me para os caminhos da dança contemporânea. E que seja perdido o dia em que não se dançou.
Aos dezesseis tive meu primeiro namorado. Ou segundo, se contarmos o pequeno Bruno...
Ele era um cara legal, era músico, tocava jazz.
Achei que passaria a gostar de jazz, mas preferi mesmo ir ao show do Tokio Hotel.
Fiquei doente nesse mesmo ano e faltei duas semanas seguidas à escola. Achei que eu fosse morrer. Tudo bem, não era pra tanto, mas não se brinca com o Citomegalovírus, entendido?
Não sei porque quando a gente se apaixona, acreditamos que o amor vai durar para sempre. Mas depois de um tempo, descobri que “pra sempre” é tempo demais... Gostaria conhecer o tal amor da minha vida no último momento da minha existência aqui. No último suspiro. Aí sim o “pra sempre” é de fato para sempre.
A morte nos torna eternos.
Comecei a ler Clarice Lispector no ano passado. Hoje já somos íntimas.
Meu dente do siso começou a dar seus primeiros sinais de chegada.
E finalmente chegamos ao dia de hoje. Neste momento, numa madrugada quente de verão. Estou sem sono.
Estou com medo. Estou num momento de mudança. Quase um rito de passagem. Estou desesperançada e ao mesmo tempo cheia de esperança com o que está por vir. Estou extremamente curiosa para saber o que há por trás dos meus muros, mais uma vez.
Mudar é difícil, mas a repercução futura é sempre incrível.
Mas, sabe, eu posso ter medo de muita coisa nessa vida. Mas de dar a cara pra bater, isso eu não tenho medo mesmo.
Veja só quantas vezes eu já mudei nessa vida. Nunca desisti de mim.
Não consigo nem sequer imaginar o que está por vir. É o mesmo sentimento de nascer... Depois de tanto tempo estou nascendo de novo. A alma é imortal. E, como disse o poeta, tudo vale a pena quando ela não é pequena.
E de novo. E de novo.
Estou pensando seriamente em pintar meu cabelo de azul...
domingo, 18 de dezembro de 2011
A Hora Perigosa
Ando me evitando. Se me encontro na rua, atravesso-a e desvio de mim. Não mais me cumprimento.
Estou um pouco temerosa em me encontrar. Pode-se dizer que estou bem. Estou calma. Estou em paz, eu acho... Ainda tenho medo.
Evito emoções fortes. Dúvidas, crises... Tenho evitado de me pôr à prova. Estou sem aquele certo prazer de arriscar, de me colocar no mais alto limite. No ápice. Ou no fundo do poço.
Tenho me contentado com o térreo.
Também estou evitando tocar locais muito profundos de mim. Tenho medo daquela hora perigosa que Clarice sempre fala, em que deparo-me com a realidade nua e crua e nego-a. Acho-a absurda. Digo que ela não me pertence, mesmo estando incrustada em minha pele. Negação doentia. Apego maldito com a doença. Gosto por um vício autodestruidor, doença da alma.
Não quero mais ser vítima daquelas típicas emoções minhas, as fortes e descontroladas, tão tipicamente minhas. Não tenho mais forças para lidar com elas, e até mesmo aproveita-las.
Estou tão cansada...
Estou um pouco temerosa em me encontrar. Pode-se dizer que estou bem. Estou calma. Estou em paz, eu acho... Ainda tenho medo.
Evito emoções fortes. Dúvidas, crises... Tenho evitado de me pôr à prova. Estou sem aquele certo prazer de arriscar, de me colocar no mais alto limite. No ápice. Ou no fundo do poço.
Tenho me contentado com o térreo.
Também estou evitando tocar locais muito profundos de mim. Tenho medo daquela hora perigosa que Clarice sempre fala, em que deparo-me com a realidade nua e crua e nego-a. Acho-a absurda. Digo que ela não me pertence, mesmo estando incrustada em minha pele. Negação doentia. Apego maldito com a doença. Gosto por um vício autodestruidor, doença da alma.
Não quero mais ser vítima daquelas típicas emoções minhas, as fortes e descontroladas, tão tipicamente minhas. Não tenho mais forças para lidar com elas, e até mesmo aproveita-las.
Estou tão cansada...
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