sábado, 27 de outubro de 2012

Sampa II

Na verdade, nada aconteceu no meu coração quando cruzou a Ipiranga e a avenida São João.
Meu coração já entendia tudo quando eu cheguei aqui. Acho realmente bela sua poesia concreta, e as tuas meninas são elegantes sim!
Vejo meu rosto perfeitamente, frente a frente, pois sou mutante. Não acho nada disso mal gosto, pelo contrário, Narciso aqui acha extremamente belo a grandeza daquilo que não é espelho.
Foi um fácil começo, aproximei-me de tudo aquilo que não conhecia e hoje conheço. Era meu sonho de cidade, minha feliz cidade, minha feliz realidade.

Mas, nada disso importa. O que realmente me preocupa é nada, absolutamente nada aconteceu no meu coração quando cruzou a Ipiranga e a avenida São João...  Isso é mau sinal. Significa que me deixei levar pela frieza de tua garoa.
Tornei-me mais uma, apenas mais uma dentre os outros. Fui oprimida. Tornei-me mais uma dos seus, Sampa, que nada acontece mais no coração, que não tem mais coração, daquela pior estirpe que sempre está com pressa e buzina.

Sinto que não tenho mais paciência. Nem o calor e a quentura que emana de suas ruas contidas de concreto me aquecem. Nada mais aquece meu coração. Não consigo mais chorar nem ter piedade. Passo pelas pessoas jogadas nas esquinas e apenas ignoro-as. Tem coisa pior do que ignorar? Tem?
Você me obrigou a ser autossuficiente. Você me obrigou a ser solitária.

Passeio solitária por sua garoa e isso não me incomoda. Nada mais acontece em meu coração.

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