segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta ao Ondjaki

Qualquer lugar no amanhã, dezessete de setembro de dois mil e onze e alguns segundos.

Caro amigo Ondjaki,

Não lhe pedirei linceça para chamar-te de amigo. Certamente já somos, após sermos apresentados ao seus tão puros sentimentos para com os da sua rua. Emocionei-me com sua tamanha simplicidade e pureza da primeira à última sílaba.
Te escrevo do meu coração, exatamente naquele pedacinho das emoções mais fortes já sentidas por ele. Te escrevo pela minha gratidão.
Obrigado, eternamente. Obrigado!
Obrigado por ter ressuscitado minha pequena interior. Obrigado! Eu estava quase me esquecendo dela e me entregando ao exterminador mundo das gentes grandes...
Suas puras palavras fizeram com que eu compreendesse o sentimento da alegria. Digo-te isso porque pego-me tantas vezes buscando essa tal alegria em lugares tão inóspitos, quando de repente percebo que a alegria de uma criança não muda, não precisa de justificativa. Por que endurecemos assim quando vamos crescendo? Não sei e ainda não entendo. De qualquer forma ainda desejo para mim o riso espontâneo de uma criança feliz. E também o choro, porque não quero guardar mágoas e dores dentro de um peito. Mas sabe, lembrei-me também de muitas cenas da minha infância, na qual não fui nada mais que feliz, preocupando-me apenas com não me preocupar com nada. Lembrei-me de tanta coisa que essa realidade tinha afastado... Um dia, entrei escondida no quarto da minha avó e comecei a mexer em tudo o que pude naquela gigantesca prateleira de perfumes que ela tinha e ainda tem. Cheirei todos os aromas que pude, era um sonho da minha infância poder brincar com todos aqueles perfumes e essências. Foi o ápice da minha glória. Confesso que, mesmo depois de dezoito anos e um dente do siso, fiz isso novamente há umas semanas atrás. E o sentimento foi o mesmo. Exatamente o mesmo. Da adrenalina de ser pega e o orgulho de cumprir a missão. E a casa da minha avó ainda cheira à poeria e massa de pão.
Eu era feliz e não sabia. Sou feliz, mas não na perfeição que fui quando criança. Eu não precisava procurar pela felicidade. Ela vinha espontaneamente, com qualquer coisa e situação.
Quando pequenos, queremos crescer. Quando crescidos, queremos voltar a ser criança. É uma condição humana. Encantamo-nos pela liberdade dos adultos, mas na verdade a temos em nossas mãos quando crianças: somos livres para ser feliz, não importa seja lá o quê.
Obrigado por me lembrar da felicidade pura. Essa bruta, sem lapidar que surge de um riso.
Desejo que você jamais perca sua capacidade de rir e sonhar! Que nenhuma delas falte no seus caminhos, por mais tortuosos que sejam. Um grande abraço.

Sua amiga,

Maria E.

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