quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Uma nova proposição sobre o sentido da vida:

A vida não tem sentido nenhum.

Só nos resta mesmo, Manuel, tocar um tango argentino.

Com sua licença

Oi, dá licença?
Posso ir entrando na sua vida?
Não se preocupe, eu não vou reparar na bagunça não...
A minha também não anda "aquelas coisa" não...
Prometo que não vou atrapalhar.
Não trago muitas coisas na minha mala:
Quatro camisas xadrez,
Uma calça jeans,
Uma saia preta,
Um par de tênis e um de chinelo,
Muitos sonhos
E minha escova de dentes.
Eu não sou impertinente, não gosto de discutir.
Não bebo. Não fumo.
Não sou de fazer barulho.
E também choro bem baixinho. À noite, antes de dormir, de preferência.
Gosto de ouvir música.
Gosto de escrever poesia.
Gosto de bater a porta quando estou com raiva.

Mas, olha, não se preocupe.
Eu não quero ser incômodo.
Pode deixar que eu me viro. Sou de casa.
Só me diga onde você quer que eu guarde os copos
E onde eu devo jogar os cacos.

No armário eu só preciso de um espacinho.
Para as camisas e para os sonhos.

Gosto de deixar bilhetinho dizendo pra onde eu fui
Quando eu saio e você ainda dorme
No domingo de manhã.
Nem sou de acordar cedo.


Deus lhe pague por enquanto.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Metafísica

Muitas vezes eu me pergunto como seria a vida se eu não existisse.
Passo bastante do meu tempo tentando imaginar essa situação. Gosto de imaginar como as coisas decorreriam sem mim. Como seria se eu não tivesse arrancado aquela flor do pé? O que seria daquela pedrinha que eu chutei se eu não a tivesse chutado? Gosto de pensar em todas as minhas ações e intervenções nas atitudes dos outros. E tudo isso se eu não existisse. Que rumo as coisas teriam tomado? E todo o caos que isso poderia ter sido causado sem a minha existência. Ou até mesmo toda a paz...
Quantos destinos eu mudaria sem a minha exisência?
Se nem uma partícula de mim estivesse aqui, o que seria da Humanidade?
Mas não me refiro apenas ao fato de ter nascido e estar vivendo. Gosto ainda de ir mais profundamente. O que seria do Universo sem a energia que me move?
Então questiono-me: serei eu essencial?
Como se comportariam as pessoas que me rodeiam se eu não as rodeasse?
Há um certo estalo em mim toda vez que tento entender o porquê de eu existir.
Haverá um momento marcado na minha vida em que eu, sendo marcada, vou marcar o destino de alguém? Quem?
E se eu não existisse?
Isso me mostra o quanto estamos interligados. Um ato meu afetaria um. E a consequência desse ato para esse um afetaria ele e outro. E esse outro afetaria ainda um outro por conta do que eu fiz.
Se eu não existisse nada disso aconteceria. Seja lá o que isso for...
Não é possível ser inconsequente.
O que quer que eu faça, direta ou indiretamente mudará o Destino.
O que quer que alguém faça mudará meu destino.
Não existe liberdade. Existem sim, escolhas. Liberdade de escolhas.
A pedra que rolou. A flor que eu roubei.
No fim, não consigo imaginar como tudo agiria se eu não estivesse aqui. Nada teria acontecido. As coisas tomariam outro rumo naturalmente e ponto. Certamente que seriam plenamente diferentes, mas estariam perfeitamente alinhadas de acordo com sua necessidade.
É interessante imaginar a inexistência existindo. Cria-se um vácuo. Um medo.
O Medo é a Inexistência. Eu tenho medo de deixar de existir. Tenho mesmo.
E então finalmente compreendo que o problema não é a inexistência. Não são os caminhos que poderiam ser tomados.
Mas sim os que estão sendo tomados.
Pensar é um ato, existir é um fato. Penso e logo existo.
O problema é esse então. Existir.
Existir é uma coisa muito séria.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O paradoxo do começo da vida

Sinto que as coisas dependem de mim para acontecer.
Mas eu não sei o que fazer com elas.
Eu, na verdade, não sei nem o que fazer comigo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O susto do sonho

Às vezes um sonho é construído com tanto carinho, idealizado com tanta alegria e esmero, tão desejado e mesmo assim distante (entretanto jamais desacreditado), que, quando ele está prestes a se realizar, a gente até assusta!

Quando ele se realiza, a gente até esquece que ele tinha que se realizar, de tão bom que ele era de ser sonhado...
Tanto sonhamos com o sonho que esquecemos de sua realização...

Porque o que nos alimenta e nos dá sentido a vida não é sua realização, mas sim o sonho sonhado.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Paraíso

Fecho os olhos.
Começo a procurar.
Eu não sei o que é. Nem como. Nem quando.
Tenho colocado todas as minhas expectativas na falta delas.
Espero um mundo diferente, sonho sempre com algo que acredito ser um certo tipo de paraíso, mas não tenho certeza sobre isso.
Eu apenas fecho meus olhos.
Tento imaginar.
Não consigo nem imaginar.
Procuro mais. Tenho medo, tenho coragem. Quero e num estalo de consciência já não quero mais.
Eu não sei o que quero. Não sei o que fazer comigo.
Abro os olhos.
Não sei como encarar a realidade. Ela não parece ser tão real assim.
Ela sempre pareceu tão distante de mim...
Estou com medo de não estar mais conseguindo sonhar. Porque, veja, isso nunca me aconteceu antes.
Abro os olhos e nada vejo.
Estou tão distante de tudo. Estou a apenas um passo de tudo aquilo que... Que sonhei?
Em que momento do sonho eu me tornei o pior dos meus pesadelos?


Transformei o paraíso em inferno?


Abro os olhos e percebo que transformei foi o inferno em paraíso.


Fecho os olhos e percebo que o paraíso não existe. Por enquanto.
Por enquanto...
Percebo que eu não existo.
Mas é mentira. Eu existo. Sendo assim, existe o inferno e o paraíso, cada um com sua beleza particular. Belíssimos estados de uma consciência elevada e abaixada, não necessariamente nessa ordem, ela varia de acordo com a estação.

Eles existem em mim.