domingo, 25 de março de 2012

Instinto

Sim, pois no fundo, bem no fundinho, eu tenho certeza que quando eu sinto medo, há ainda uma dose de admiração por ele.
É um assombro de respeito.
Eu realmente respeito e admiro àquilo que temo. Quase há um despertar de afeição. Porque esta perturbação resultante da ideia de um perigo real ou aparente ou da presença de alguma coisa estranha ou perigosa, faz com que eu a respeite por ela conseguir derrubar as barreiras da minha coragem e ousadia.
Não gosto de tomar susto. O medo faz com que eu me mexa e evite.
Isso mostra o quando o que eu temo é maior que eu. É mais poderoso que eu. Derruba o que eu acredito, coisa que ninguém consegue fazer!
Tem mais artimanhas para me atingir do que eu. Sinto quase uma certa inveja...
Tremo. Arrepio. Como será que ele consegue? Me faz sofrer, me faz machucar.
Admiro àquilo que me apreende. Simplesmente porque ele consegue me tirar do eixo, da minha zona de conforto. Faz com que eu me mova, que eu corra, que eu grite. Faz, simplesmente, com que eu tenha medo.
No fundo, eu admiro aquilo que temo.

sábado, 24 de março de 2012

Bons conselhos a serem dados à mim mesma

Deixe estar... Não tenha pressa, e principalmente não deixe o desespero te dominar.
Não desanime. Não se desanime.
Mantenha a esperança. Respire fundo.
Deixe esse orgulho de lado. Passe vergonha se necessário. Aprenda.
Chore quando precisar.
Tenha juízo. Mas não tenha medo.
Não tenha medo de enfrentar seus Medos.
A Felicidade será encontrada onde você menos espera. E tem tanta coisa desnecessária que faz com que esse encontro seja atrasado...
Dê tempo ao Tempo e tudo o que deve se resolver irá ser resolvido.
Busque sabedoria. Busque paz.
Tudo o que você está tentando provar é para si mesmo.
E para mais ninguém.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Cara de tempestade

Ela entrou sem que ninguém percebesse.
Trazia consigo o enorme peso de se ser. Uma imensa vontade de chorar. Outra de vomitar.
Mas em hipótese alguma deixaria seus sentimentos se transparecerem, principalmente esses que a derrubavam.
Não se suportava ver derrotada, principalmente quando perdia para si mesma e sua insensatez. Ou aquilo que acreditava ser loucura...
Que não necessariamente era.
Entrou na sala com cara de tempestade pois aquele ambiente não a agradava de maneira nenhuma. Achava tudo aquilo um absurdo. Mais abismada ficava quando se via obrigada a estar ali. Sitiada.
Numa guerra interior: queria gritar mas não podia.
Sentou-se então apenas quieta. Cumprimentava alguns, desdenhava de outros.
Mas nunca ninguém sabia ao certo o que ela estava sentindo. Ou pensando. Ou arquitetando. Ou o que quer que fosse.
Apenas a observavam de longe. Tinham medo.
Sempre que ela parecia distraída era porque estava prestando atenção.
Sempre que parecia estar prestando atenção certamente era para disfarçar que estava distraída.
Falava pouco, bem pouco. Gostava de ouvir. Contestava apenas em sua cabeça. Não era muito à favor de compartilhar ideias... Nesse ponto era muito egoísta.
Queria-as apenas para si.
Mas isso ninguém sabia.
Ninguém sabia nada sobre ela. Bem, quase nada.
Não era do conhecimento dos comuns que ela gostava de ouvir os trovões e raios quando chovia. Por isso sempre tinha cara de tempestade.
Talvez por isso todos a temessem. E a admirassem secretamente, porque ela tinha a coragem de assumir que amava as tempestades.
E como as tempestades, ela começava e terminava sem que ninguém percebesse, porque todos se preocupam com o meio dela. E enlouquecem ao tentar desvenda-las.
Não havia importância na hora que ela saía ou entrava. O importante era que ela estivesse lá.

Ela saiu sem que ninguém percebesse.

Valsa da Verdade

Tem gente que me disse que é legal. Teve gente que me disse que é ruim e faz mal.
Uns disseram uma coisa. Já outros, disseram a outra. Dizem que sim, que não. Há os que ainda arriscam um talvez...
Uns são da corrente filosófica do "encontre-se". Já ouvi também os que dizem sem titubear: "perca-se".
- Ser feio é bonito.
- Feio mesmo é roubar e não poder carregar!
Segure.
Solte.
Seja honesto.
Seja esperto.
Engula.
Cuspa.
Todos falam. Ninguém ajuda. Nada disso é verdade.
A verdade é que ninguém sabe a Verdade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Hoje eu acordei outra

Hoje, eu acordei outra.
Já não sou a mesma de ontem.
Hoje pela manhã, quando abri pregeuiçosamente meus olhos a luz não os excitou como havia o feito ontem.
A dor dos meus calcanhares quanto tocaram o chão frio já não foi a mesma dor de ontem.
Por mais que eu tenha contado os grãos de pó do café com a mesma quantidade de ontem, seu gosto não foi igual. Não vi com os mesmos olhos, não falei com a mesma voz, não escutei com os mesmos ouvidos, não senti com a mesma pele.
Fiz o mesmo caminho de ontem, mas meus passos não foram os mesmos. Respirei o mesmo ar, mas esse não aliviou os meus pulmões do mesmo jeito. Meu coração bateu num rítmo diferente.
Fiz o que fiz ontem do mesmo jeito, entretanto não mesmo tempo, não com a mesma força, a mesma inteligência e a mesma disposição.
Achei que enlouqueci, mas logo acostumei-me com a minha nova versão, porque, ao contrário do que muitos pensam, as coisas mudam. Mesmo quando elas parecem ser as mesmas.
Por mais absurdo que pareça, nenhum dia é igual ao outro. Parecidos, mas iguais? Jamais!
E quando as coisas parecem mudar, mais elas permanecem as mesmas...
E já antes de dormir, senti que já não estava sendo a mesma que fui hoje...
Pois sabe-se que, anteriormente, eu também já não era a mesma de anteontem.
E amanhã já não mais serei a mesma de hoje.