segunda-feira, 12 de março de 2012

Cara de tempestade

Ela entrou sem que ninguém percebesse.
Trazia consigo o enorme peso de se ser. Uma imensa vontade de chorar. Outra de vomitar.
Mas em hipótese alguma deixaria seus sentimentos se transparecerem, principalmente esses que a derrubavam.
Não se suportava ver derrotada, principalmente quando perdia para si mesma e sua insensatez. Ou aquilo que acreditava ser loucura...
Que não necessariamente era.
Entrou na sala com cara de tempestade pois aquele ambiente não a agradava de maneira nenhuma. Achava tudo aquilo um absurdo. Mais abismada ficava quando se via obrigada a estar ali. Sitiada.
Numa guerra interior: queria gritar mas não podia.
Sentou-se então apenas quieta. Cumprimentava alguns, desdenhava de outros.
Mas nunca ninguém sabia ao certo o que ela estava sentindo. Ou pensando. Ou arquitetando. Ou o que quer que fosse.
Apenas a observavam de longe. Tinham medo.
Sempre que ela parecia distraída era porque estava prestando atenção.
Sempre que parecia estar prestando atenção certamente era para disfarçar que estava distraída.
Falava pouco, bem pouco. Gostava de ouvir. Contestava apenas em sua cabeça. Não era muito à favor de compartilhar ideias... Nesse ponto era muito egoísta.
Queria-as apenas para si.
Mas isso ninguém sabia.
Ninguém sabia nada sobre ela. Bem, quase nada.
Não era do conhecimento dos comuns que ela gostava de ouvir os trovões e raios quando chovia. Por isso sempre tinha cara de tempestade.
Talvez por isso todos a temessem. E a admirassem secretamente, porque ela tinha a coragem de assumir que amava as tempestades.
E como as tempestades, ela começava e terminava sem que ninguém percebesse, porque todos se preocupam com o meio dela. E enlouquecem ao tentar desvenda-las.
Não havia importância na hora que ela saía ou entrava. O importante era que ela estivesse lá.

Ela saiu sem que ninguém percebesse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário