Eu não te peço muito. Não te pedirei quase nada. Não precisa fazer muito. Só quero que você dance comigo.
Só queria que, num dia nublado, chuvoso e frio, em que eu esteja jogada no sofá velho da minha sala, com o olhar perdido entre as paredes brancas, você venha até mim.
Não quero que você fique intimidado pelos meus olhos vermelhos e as bochechas ainda umedecidas. Chegue mais perto. Mexa no meu cabelo desgrenhado em sinal de misericórdia.
Sorria para mim, mesmo que seja de um jeito um tanto torto e sem graça. Só peço que seja verdadeiro, mesmo que seja em silêncio.
Olharei para seus olhos. Provavelmente mais algumas lágrimas que ainda teimam cairão. Por favor, seque-as.
E então você se levanta. Liga o rádio. Pode ser a música que for.
E então ela começa.
E então você estende sua mão para mim. E diz:
-Vem cá.
Já aviso que, à principio, eu vou negar. Vou me encolher no sofá e virar o rosto para as almofadas e, com a voz tremendo, eu direi algo que pode ser inteligível como um "não".
Após esse fato, você, faça-me um favor: não desista. Pegue minha mão, meu braço e me levante, mesmo que eu demonstre não querer, saiba que eu quero.
Eu ficarei olhando para o chão com um nó na garganta enquanto a música continua. Seja paciente. Dê-me um beijo na testa. Deite-me em seu peito, enrole meu tronco em seus braços, deixando com que eu coloque os meus desleixados sobre seus ombros. Proteja-me do frio.
Abrace-me.
Nesse momento eu certamente cravarei minhas unhas em suas costas, em um esforço, apertando meus olhos, para não chorar mais. Abafarei um grito enquanto você enrola seus dedos na minha cabeça. Espero que você não se importe...
Somente levante-me, coloque meus pés sobre os seus. Tire meus pés do chão, como se eu pudesse voar. E ao som dessa música, dance comigo.
Me leve para um lado, para o outro, não precisa ser grande coisa. Faça-o lentamente. Segure com força meus joelhos e meu coração, ambos trêmulos. Segure-me para que eu não desabe. Vamos girando pela sala. Carregue minha respiração dificultosa enquanto ela se mistura com sua expiração. Fique comigo. Ajude a purificar meu peito angustiado com sua paz. Movimente-me trazendo vida de volta ao meu corpo.
Só até eu me acalmar... Dance comigo. Não precisa ser nada mais que isso.
E mesmo que seja difícil de acreditar, sussurre em meu ouvido enquanto a chuva bate no vidro da janela onde eu verei nosso espectro refletido:
- Não se preocupe mais, vai ficar tudo bem...
E a gente dança mais um pouco.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Constatação filosófica do dia:
"Quanto mais normal você tenta ser, mais louco você acaba por parecer."
- eu mesma.
- eu mesma.
Realidade dos sonhos
Assusta e amedronta-me quando um dos meus sonhos
começa a tornar-se realidade... É estranho vê-lo tomar para si mesmo uma forma
concreta. Sinto um arrepio no coração, quase uma angústia, um medo desmedido
quando ele toma para si a Realidade. De uma maneira tão nua e crua.
Ao mesmo tempo que sinto orgulho e satisfação, sinto medo. Fico apreensiva depois do tanto que ele foi sonhado, desejado e querido. E por tanto tempo...
Apego-me aos meus sonhos. E facilmente. Acostumo-me com suas presenças me fazendo companhia em noites frias e, tantas vezes, solitárias. Um carinho que faço à mim mesma.
E quando eles estão prestes a tornarem-se realidade, às vezes nem quero que eles de fato se tornem, de tão prazerosos que eles me são ao serem sonhados, criados com muito amor, carinho e calma. Com muito esmero. A realidade é dura demais para eles...
Ao mesmo tempo que sinto orgulho e satisfação, sinto medo. Fico apreensiva depois do tanto que ele foi sonhado, desejado e querido. E por tanto tempo...
Apego-me aos meus sonhos. E facilmente. Acostumo-me com suas presenças me fazendo companhia em noites frias e, tantas vezes, solitárias. Um carinho que faço à mim mesma.
E quando eles estão prestes a tornarem-se realidade, às vezes nem quero que eles de fato se tornem, de tão prazerosos que eles me são ao serem sonhados, criados com muito amor, carinho e calma. Com muito esmero. A realidade é dura demais para eles...
Reação do Tempo
É uma sensação estranha. A mente fica um tanto
confusa. É estranho quando o tempo começa a mudar, e o Futuro começa a absorver
o Presente. O Futuro lentamente joga suas garras sobre o Presente, de um modo
piedoso, entretanto assustador. Vai arranhando-o e despedaçando-o sem que se
perceba, de modo indolor. Sente-se um líquido quente escorrer pelas costas,
algo aterrorizante seu fim, porém de uma beleza que apenas as mais elevadas e
iluminadas almas podem compreender.
Mas não se pode gritar, nem definir com precisão de que se trata.
Apenas é sabido que não é algo normal. A mudança é sentida, mas não é racionalmente constatada. Em outras palavras, tem-se a noção de que algo está acontecendo, mas não se sabe ao certo o quê. É uma questão de intuição e um tanto de resignação.
E assim os pedaços de Presente, aqueles dilacerados anteriormente, começam a cair delicadamente. Quando tocam o chão e as almas, iniciam-se em um ritual único, onde as cinzas do Presente tornam-se Passado e desaparecem do mundo físico. De modo algum deixam de existir, muito pelo contrário: passam a habitar paraísos onde podem descansar após sua missão já plenamente cumprida, deixando apenas sua lembrança agridoce nas memórias dos corações.
Em seguida, os fluídos do Futuro dominam essa aura e condensam-se em uma nova crosta fina e brilhante. E assim tornam-se Presente por sua vez. De acordo com o passar do tempo e com o contato com gases e situações presentes na atmosfera, essa casca torna-se mais densa e porosa, de forma que, na próxima vez que o Futuro chegar, ela estará pronta para ser absorvida quando os sonhos começam a se tornar realidade... Estando o detentor desses pronto ou não.
De forma cíclica e indefinidamente.
Mas não se pode gritar, nem definir com precisão de que se trata.
Apenas é sabido que não é algo normal. A mudança é sentida, mas não é racionalmente constatada. Em outras palavras, tem-se a noção de que algo está acontecendo, mas não se sabe ao certo o quê. É uma questão de intuição e um tanto de resignação.
E assim os pedaços de Presente, aqueles dilacerados anteriormente, começam a cair delicadamente. Quando tocam o chão e as almas, iniciam-se em um ritual único, onde as cinzas do Presente tornam-se Passado e desaparecem do mundo físico. De modo algum deixam de existir, muito pelo contrário: passam a habitar paraísos onde podem descansar após sua missão já plenamente cumprida, deixando apenas sua lembrança agridoce nas memórias dos corações.
Em seguida, os fluídos do Futuro dominam essa aura e condensam-se em uma nova crosta fina e brilhante. E assim tornam-se Presente por sua vez. De acordo com o passar do tempo e com o contato com gases e situações presentes na atmosfera, essa casca torna-se mais densa e porosa, de forma que, na próxima vez que o Futuro chegar, ela estará pronta para ser absorvida quando os sonhos começam a se tornar realidade... Estando o detentor desses pronto ou não.
De forma cíclica e indefinidamente.
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