quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Só quero que você dance comigo

Eu não te peço muito. Não te pedirei quase nada. Não precisa fazer muito. Só quero que você dance comigo.
Só queria que, num dia nublado, chuvoso e frio, em que eu esteja jogada no sofá velho da minha sala, com o olhar perdido entre as paredes brancas, você venha até mim.
Não quero que você fique intimidado pelos meus olhos vermelhos e as bochechas ainda umedecidas. Chegue mais perto. Mexa no meu cabelo desgrenhado em sinal de misericórdia.
Sorria para mim, mesmo que seja de um jeito um tanto torto e sem graça. Só peço que seja verdadeiro, mesmo que seja em silêncio.
Olharei para seus olhos. Provavelmente mais algumas lágrimas que ainda teimam cairão. Por favor, seque-as.
E então você se levanta. Liga o rádio. Pode ser a música que for.
E então ela começa.
E então você estende sua mão para mim. E diz:
-Vem cá.
Já aviso que, à principio, eu vou negar. Vou me encolher no sofá e virar o rosto para as almofadas e, com a voz tremendo, eu direi algo que pode ser inteligível como um "não".
Após esse fato, você, faça-me um favor: não desista. Pegue minha mão, meu braço e me levante, mesmo que eu demonstre não querer, saiba que eu quero.
Eu ficarei olhando para o chão com um nó na garganta enquanto a música continua. Seja paciente. Dê-me um beijo na testa. Deite-me em seu peito, enrole meu tronco em seus braços, deixando com que eu coloque os meus desleixados sobre seus ombros. Proteja-me do frio.
Abrace-me.
Nesse momento eu certamente cravarei minhas unhas em suas costas, em um esforço, apertando meus olhos, para não chorar mais. Abafarei um grito enquanto você enrola seus dedos na minha cabeça. Espero que você não se importe...
Somente levante-me, coloque meus pés sobre os seus. Tire meus pés do chão, como se eu pudesse voar. E ao som dessa música, dance comigo.
Me leve para um lado, para o outro, não precisa ser grande coisa. Faça-o lentamente. Segure com força meus joelhos e meu coração, ambos trêmulos. Segure-me para que eu não desabe. Vamos girando pela sala. Carregue minha respiração dificultosa enquanto ela se mistura com sua expiração. Fique comigo. Ajude a purificar meu peito angustiado com sua paz. Movimente-me trazendo vida de volta ao meu corpo.
Só até eu me acalmar... Dance comigo. Não precisa ser nada mais que isso.
E mesmo que seja difícil de acreditar, sussurre em meu ouvido enquanto a chuva bate no vidro da janela onde eu verei nosso espectro refletido:
- Não se preocupe mais, vai ficar tudo bem...
E a gente dança mais um pouco.





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