quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sobre homens e ratos

...E então ele levantou-se lentamente e veio em minha direção.
Senti-me contraído por todos meus músculos.
E então ele olhou nos meus olhos, com raiva, desafiando-me, e perguntou de forma ameçadora:
- Você é um homem ou um rato?
Ratos não correm em diagonal, vão rápidos e faceiros pelos cantos do cômodo, amedrontados, pelos rodapés das paredes...
Eu sabia que era o mais fraco de todos ali presentes, isso era evidente. O menor. O sem-coragem. Mas eu era tanto assim ao ponto de ser taxado de rato?
Sim. E fiquei indignado por ser visto assim. Ora, eu não era tão ruim assim...!
Mas, pela primeira vez, passei a considerar a hipótese de eu ser um homem.
Quiçá eu não fosse mesmo?

Então, estufei meu peitinho infantil e magro e bradei:
- Um homem!
Fiz isso o mais rápido que pude para que ele não percebesse que eu tinha parado para pensar na resposta. Mas não olhei nos olhos de ninguém ao redor quando o respondi. Ainda sentia-me tenso. Tive medo que eles percebessem que eu poderia estar mentindo...
Eu estaria de fato mentindo?
Para eles ou para mim mesmo?
O medo me abateu novamente e senti-me um rato.
Eu era um homem ali engaiolado correndo numa rodinha de metal? Correndo sem sair do lugar...

Ainda em pose de coragem e com uma sobrancelha arqueada para dar mais ênfase de caricatura na minha resposta, desviei minha visão para poder ver os olhos que me encaravam naquele momento.
Percebi que de certa forma, eles acreditavam em mim.
E eu acreditei que seria muito mais do que eu merecia.
Mais do que eu acreditava em mim propriamente.

Talvez olhassem para o meu futuro e profetizavam-me como homem.
Teria o intuito daquela pergunta me provocar? Aquelas coisas de psicologia reversa... Me motivar por meio de uma provocação para que provasse para ele que eu não era rato coisa nenhuma.
De certa forma, deu certo. Quem quer ser um rato?

Era eu mais complexo que um rato? Poderia ter eu a concepção de ser um ser racional? Construí as pirâmides do Egito e a Grande Muralha da China. Toda a minha força, minha vontade, minha coragem que eu ainda poderia desdobrar a dominar o mundo como um deus... Não sabeis que sois deuses? Um espírito infinito? Imortal!
Estufei meu peito agora como se fosse Hércules! O poder e a força dos Homens passadas por todas as eras para que eu possuísse-as!

Estava quase me sentido um pregador do Antropocentrismo quando percebi.

O homem tem medo de rato. Musofobia. Minha divindade acabou-se repentinamente.
Era eu então um rato. E dos bons.

De fato, eu tinha um certo medo de ratos...

Eu detinha a força, mas não sabia como usá-la. Toda a inteligência e a esperteza pode ser derrubada rapidamente pelo golpe mais simples e baixo.

O medo. Mais primitiva e animalesca parte de mim.

Um grande rato eu era? Um pequeno homem?

-O que é que foi? Por que esse silêncio? ME RESPONDE!
Desviei meus olhos para o chão, consciente de minha situação:
-Todo homem é rato. - disse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário