Ele andava distraído. Os pensamentos e os pés automáticos. Seu coração
também batia. Automaticamente.Dez milhões de corações também batiam juntos
naquele momento. Num mesmo compasso, aparentemente tão diferentes, mas, no
fundo, todos iguais.
Ele era, na verdade, diferente de todos aqueles. Único. Não
era igual a mais ninguém. Mas único como todos os outros. Só mais um entre os
outros. Inigualável como qualquer outro. Sozinho, da mesma forma que os outros.
Todos ali viviam na mesma solidão. Uma solidão fazendo companhia para a
outra. Todos ali tão sós e tão juntos. De certa forma, era uma forma de amor
dentre estes.
Ele estava sozinho.
Equilibrava-se sozinho. Os dedos quase roxos, a cabeça nas
nuvens e os pés no chão. Já estava um tanto irritado. A próxima estação era a
Sé. Ele foi desacelerando, desacelerando...
Parou. As portas abriram e alguns usuários do metrô saíram. Suspirou e voltou a respirar, aliviado. Olhou para trás, para ver quem iria entrar. As portas abriram novamente. E então, ela entrou. Anônima. Linda.
O cabelo curto e prático, os olhos castanhos e sonolentos. Uma bolsa, uma sacola, uns livros e o casaco nos braços. Apressada. Cansada. Compenetrada em sua solidão dos os fones de ouvido. No entanto, trazia um leve sorriso no olhar, pois estava ouvindo uma música que aparentemente gostava muito.
Parou. As portas abriram e alguns usuários do metrô saíram. Suspirou e voltou a respirar, aliviado. Olhou para trás, para ver quem iria entrar. As portas abriram novamente. E então, ela entrou. Anônima. Linda.
O cabelo curto e prático, os olhos castanhos e sonolentos. Uma bolsa, uma sacola, uns livros e o casaco nos braços. Apressada. Cansada. Compenetrada em sua solidão dos os fones de ouvido. No entanto, trazia um leve sorriso no olhar, pois estava ouvindo uma música que aparentemente gostava muito.
O vagão e seu coração aceleraram. Numa repentina falta de
equilíbrio, por ela e pelo movimento, ele agarrou-se rapidamente ao amor para
não cair.
Ela era tão linda!
Ele não conseguia tirar os olhos dela. Como ela devia se
chamar? Com o que ela trabalhava? Qual sua comida favorita? O que estaria
lendo?
Seu coração batia num ritmo diferente dos demais ali. Estava
acelerado.
A expressão abobalhada. As pernas trêmulas. Sorriu
inconscientemente.
Nesse exato momento, o Destino fez com o que ela olhasse para
frente. E por acaso era ele quem estava a sua frente.
Os olhos se cruzaram. Ela assustou-se. Ele assustou-se.
Nenhum dos dois estava acostumado com o amor. Não estavam acostumados com
surpresas e sim com a rotina simétrica. Sentiram medo um do outro, pois não era
comum dos paulistanos olharem-se nos olhos.
O coração dela também começou a bater num ritmo diferente dos
outro nove milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e
oito corações. Batia agora no mesmo descompasso assustadoramente alegre do
dele. E não era por hipertensão.
Ela então, também sorriu. Timidamente, mas o fez de qualquer
forma.
Próxima estação: Liberdade. Desembarque pelo lado direito do trem.
Ele desceria na próxima.
Com uma tristeza inigualável, seu coração
foi desacelerando. Assim como o trem. Então desceu. Ficou estático mais alguns
segundos na estação, observando-a por mais um último momento. Ela ia embora.
Nunca esqueceria aquele sorriso.
Voltou a andar distraído. Mas agora com o coração reavivado.
Sorrindo no meio de rostos tristes. Leve no meio de
consciências tão pesadas. Esperançoso.
Único.
Eles nunca mais iriam se ver. Sequer se encontrar.
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