Deitam a cabeça cheia de pensamentos no travesseiro. Não conseguem se concentrar para o sono e o descanso. Depois de inúteis tentativas e uma luta invencível contra as angústias, levantam-se e entregam-se ao pequeno comprimido. Droga com bula.
Conseguem enfim dormir. Os sonhos são confusos, ansiosos, nervosos. Não há descanso de fato.
Eles não se dão descanso.
Acordam com o despertador estridente em sua orelha. Por apenas alguns segundos tem paz. Não estão completamente conscientes nem memorados. O cérebro vai adaptando-se lentamente à claridade fraca.
Os olhos abrem-se por completo. Recordam-se.
E então tudo volta. Tudo.
As angústias, os nervos, as ansiedades. Suspiram melancólicos. Sentem certa vontade de chorar. Tudo começa a rodar novamente em suas cabeças.
O coração ainda bate, o oxigênio ainda entra por suas narinas. Mas não desejam sair dessa cama.
Estão mortos.
Levantam-se sem vontade. Não tem sequer curiosidade para saber o que pode ocorrer, o que pode mudar.
Cumprem as primeiras tarefas do dia mecanicamente. Não dão atenção ao que fazem, estão ali em seu corpo maduro, mas com os pensamentos apodrecidos. Os líquidos transbordam, deixam-se queimar, as louças se partem no chão.
Estão eles, na verdade, partidos. Frustrados, limpam a sujeira.
Andam pelas ruas como mortos-vivos. Os olhares inexpressivos, perdidos em sua própria malha de pensamentos confusos. Inconformam-se com o fato de ninguém ali, nenhum daqueles desconhecidos poder ajuda-los. Sentem inveja dos que estão felizes e sorrindo. Sentem raiva de casais apaixonados. Sentem nojo de todo o resto. Despresam a si mesmos.
Eles querem ajuda. Mas não fazem a mínima ideia de como pedir. Nem que é possível pedir...
Perdem-se facilmente em suas questões. Não sabem como resolvê-las. Ou sabem, na maioria das vezes sabem, mas não o querem fazer.
Por medo, por pena, por preguiça, por orgulho, por apego, por raiva...
Alimentam-se dessa situação. E vão perdendo a Vida por isso.
Morrem, mas ao invés de serem elevados são rechaçados cada vez mais fundo em si mesmos.
Estão perdidos neles mesmos.
Fazem de tudo para não demonstrar. Utilizam-se de suas últimas forças, que seja, mas não! As olheiras, os glóbulos inchados... Nada é pretexto.
Relembram com pesar das felicidades do passado. Têm raiva do fato de já terem sido felizes um dia... Apegam-se às memórias, transformam-na em irrealidade, moldam para que sejam perfeitas. E torturam-se com a incapacidade que acreditam ter de recuperar o sentir feliz mais uma vez. Tentam se matar assim. Choram ao lembrar que não são mais felizes.
Queriam apenas deixar seu corpo em algum lugar e descansar. O maior desejo é poderem livrarem-se deles mesmos. Porque, no fundo, eles sabem que são os culpados. Os únicos. Mas não assumem isso. Nem secretamente dentro de suas mentes, em seus pesamentos mais obscuros, nas verdades mais hediondas.
Por isso fogem. A fuga os torna mortos-vivos.
Sonham com o fim do Fim. Em outras palavras, desejam apenas que tudo acabe. Apenas acabe silenciosamente. Sabem que se conseguirem surtar ficarão bem. Mas essa é uma ousadia muito grande, não há previsibilidade do que pode ocorrer...
Sabem que a mudança é necessária, e sabem também que ela não deve partir deles. Sabem que precisam morrer para renascer pois o fim lhes trará algo novo. Entretanto preferem esse sobrevida, esse umbral, esse meio. Sem um passo para frente nem outro para trás. Rolam na sujeira.
E mais uma vez, fogem.
É instintivo tentar fugir daquilo que pode mata-los.
E deitam mais uma vez a cabeça cheia de pensamentos.
Não conseguem se concentrar para o sono e o descanso. Depois de inúteis tentativas e uma luta invencível contra as angústias, levantam-se e entregam-se ao pequeno comprimido. Sabem que no dia seguinte será a mesma coisa.
Dormem e acordam do mesmo jeito, com o mesmo peso.
Não sentem mais a esperança. Por isso estão mortos. Mas no fundo, ainda querem se salvar.
Mas fogem. Por isso ainda estão vivos.
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