sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Considerações sobre o Tempo

A única função do Tempo é passar.
Não o culpe. Seja porque ele demore, seja porque ele passe rápido demais.
A culpa nunca foi dele. Deixe-o ir. Deixe-o ficar...
Não peça para que ele seja melhor.
Não tenho lá muita certeza se é ele que cura. Ou se ele só piora...
O Tempo só passa. E nada mais.
Ele não tem que ser amigo de ninguém.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Furacões e Sóis

Descobri em mim uma capacidade de destruir furacões e sóis.
Não importa quando, não importa como.
Descobri em mim furacões e sóis.
Eles existem.

Ego Trip

Minha grande estreia foi no dia oito de setembro de mil novecentos e noventa e três. Às onze e cinco. É o que me contam, não sei se é verdade.
Reza a lenda que era um começo de manhã frio em que o sol não brilhou. Resolvi então nascer. Chegara a hora. Com uma semana de antecedência, se não me engano nos cálculos.
Era o meu desespero pela tal vida. A curiosidade inconsequente para saber o que havia no mundo por trás daqueles muros. Devo dizer que esse ainda ainda é um traço marcante da minha personalidade: a curiosidade.
Pois bem, para encurtar a história e também porque não sei o que se sucedeu nesse meio tempo, foi-se a família para o hospital. Não sei quem foi, nem que chegou depois. Sei que, certamente minha mãe estava lá.
Minha mãe não teve uma contração sequer.
Isso tudo que eu acabo de contar ocorreu por volta das seis.
Enquanto isso, fiquei eu, com um certo medo pelo desconhecido, à espera.
Isso é uma coisa que mete medo de verdade, o futuro. Porque o futuro é desconhecido. É inseguro e incerto. Tem coisa pior do que saber que a única certeza é a Incerteza?
E então, como já disse, às onze e cinco da manhã respirei pela primeira vez o ar dessa vida. Eu não tinha sobrancelhas.
Uma ironia, pois hoje em dia tenho sobrancelhas voluptosas se você quer saber.
Chovia. Não sei se fraco, não sei se forte. Setembro é um mês que faz frio de manhã. Contaram-me também que a maternidade estava em reforma. Fiquei no quarto com minha mãe. Foi aí que nos tornamos amigas. Coisa que somos até hoje.
Amarraram-me um lenço na cabeça por causa do frio, estava tendo dor de ouvido, coisa assim. Tive algumas questões com a dor de ouvido na infância...
Quando eu nasci, todos diziam que me parecia com meu pai.
Tinha olhos azuis. Eu, não o meu pai.
E então fui crescendo enquanto minhas fraldas eram trocadas. Tive uma Barbie de biquini dourado e descabelada. Um copo vermelho da Coca-Cola. Tinha também uma estranha mania de me entalar no berço virando meu corpo em horizontal. Conseguia equilibrar uma bola nos meus pézinhos.
Aos três meses, minha mãe me deixou sozinha em cima de uma cama e, bem, não sei a razão, o motivo ou a circunstância e acabou que eu caí-me no chão. Até hoje ninguém sabe como isso aconteceu, não há explicação, é um mistério. Não sabem se fui jogada, se me joguei... A consequência disso é que alguns parafusos de mim se soltaram. Vê? Há uma explicação plausível para eu ser assim...
E continuei crescendo. Tinha cachinhos dourados naquele momento. No meu segundo aniversário fiquei muda, não falei por um dia inteiro . Creio que de excitação, de felicidade, ansiedade, medo. Certamente de medo. Também fiquei tão feliz que acho que nem soube expressar em palavras o que estava sentindo e achei melhor me calar com medo de pode macula-lo e apreciei o sentimento no silêncio. Pois já dizia meu pai, se falar fosse bom a gente teria duas bocas e um ouvido.
Usei um vestido verde do tamanho do mundo. Um dos meus primos, o Heitor, caiu e machucou o queixo.
Algum tempo depois fui mandada para a escolinha. Tinha aí três anos. Era um lugar interessante, tinha um parquinho cheio de areia e com um escorregador pra que os pequenos pudessem brincar. Tinha uma tartaruga lá. Não me recordo seu nome, infelizmente.
Outra coisa que eu não me recordo é o porquê de eu não querer continuar lá depois do bailinho de carnaval. Não consigo me lembrar o motivo de eu não querer pertencer mais àquele lugar. Talvez tenha sido culpa da Julinha...
Julinha não me descia!
Nem lembro quem é a tal Julinha, mas lembro desse nome e lembro de meu santinho não bater com o dela.
Não consigo me recordar também da fantasia que eu usei.
Conclusão: esperei mais um ano em casa.
Um ano depois, já com olhos verdes e cabelo castanho (não sei como essas coisas mudam) fui matriculada em uma nova escolinha. Minha prima Isabela estudava lá.
Logo quando cheguei e fui apresentada, Duda logo disse:
-Meu Deus, mais uma Maria!
Pois é, na turminha já havia uma Maria Eduarda, uma Maria Luísa e uma Maria Tereza. Só a Isabela não era Maria.
Mas eu era.
E a Duda e a Isabela são minhas amigas até hoje.
A escolinha tinha cheiro de suco na garrafinha de plástico. Adorava lancheira.
Meninos e meninas usavam o mesmo banheiro.
Meu primeiro amor foi o Felipe. Mas não era correspondido.
Uma tarde, a aula já havia acabado e minha mãe estava demorando para ir me apanhar. Ela era sempre pontual e nunca atrasara antes. Todos os meus amiguinhos foram embora e eu fui a última.
A última.
Chorei até não poder mais de medo, de abandono. Minha mãe jura que ela atrasou apenas alguns minutos, mas, para mim, pareceu que eternidades se passaram até ela chegar.
Coitada de mamãe, teve que fazer muito tempo de terapia pra se livrar da culpa.
Foi traumático para nós duas.
Lá comecei a dançar ballet, do qual fui discípula por nove longos anos.
Meu segundo amor lá foi o Bruno. Esse era correspondido. Erámos namorados, uma coisa muito importante no círculo social da escolinha sim! Ele escrevia cartas para mim e eu escrevia cartas para ele. Um dia ele foi até a minha casa me levar flores.
E eu estava de pijama.
Ele mudou de escola um tempo depois, mas nosso amor não se desfez. Um dia, ele foi nos visitar na e, juro, minhas pernas nunca mais tremeram naquela velocidade com uma surpresa... Quase levantei voo.
Ele trocava as letras e falava errado.
Cresci mais um pouco e fui para uma escola maior.
Quando fui conhece-la gostei logo de cara da biblioteca. Acho que ela não tinha o cheiro de mofo que tem hoje...
No primeiro dia de aula todos os alunos da escola estavam na quadra poliesportiva. Recordo-me nitidamente da Carol chorando.
Queria ter podido consola-la, ela estava nervosa.
Carol também é minha amiga até hoje.
Havia tantas pessoas diferentes lá. Gente que eu nunca havia visto antes, o que me era incrível. E assustador também.
Houve um dia em que estávamos fazendo muito barulho e a professora reclamou, ficou brava e disse que não queria dar mais aula pra gente.
Naquele dia eu tremi na base. Fiquei com medo, triste e culpada. Mas ela não parou de dar aula pra gente. Deu até no ano seguinte...
Outro dia em que fiquei com medo, triste e culpada foi quando brincávamos de telefone-sem-fio. Chegou ao meu ouvido: “um caso com uma mulher”. Me assustei, até pedi para o menino repetir. Passei a frase à diante.
Quando a brincadeira terminou, descobriu-se que a frase original era na verdade “Você quer se comportar melhor?”. Mais uma bronca.
Levei a culpa pelo mal-entendido por muitos e muitos anos nas costas. Sempre achando que eu fora a culpada de distorcer a frase. Foi quando que, no ano passado me ocorreu que não precisava ter sido necessariamente eu que compreendi errado a frase, não é mesmo? Poderia facilmente ter sido alguém antes de mim.
Me livrava naquele momento de um trauma da infância.
Na segunda série, logo quando comecei a aprender Matemática já declaramos guerra uma à outra. Até hoje me perco fazendo as contas de divisão.
Na terceira série ganhei um prêmio (uma mochila) por ter tido um poema meu publicado em uma agenda... Ali, meu ego do tamanho do universo começou a dar seus sinais. Foi nesse ano também que meu pai me apresentou aos clássicos do Rock. Eu era fã dos Beatles aos nove anos de idade. Curtia Pink Floyd também. Fiquei inconformada quando ele me contou que John Lennon havia sido assassinado.
Por volta da sexta série meu estilo estava começando a mudar. E eu começando a descobrir que ser normal era bem chato. Virei diferente.
Aos treze, pintei meu cabelo de cor-de-rosa berrante. Essa talvez tenha sido a maior ousadia da minha vida até hoje. As opiniões eram divididas, havia pessoas que amavam e admiravam, outras, por outro lado, me achavam idiota. E não faziam questão nenhuma de esconder sua opinião.
Eu sofria. Ao mesmo tempo que me amava, me odiava. Típico de adolescência. Chorava ouvindo música. Comecei a desenvolver um certo medo das pessoas e também uma insociabilidade. Tinha poucos amigos.
Eu nunca fui a mais popular. Nunca mesmo.
Uma noite, aos prantos, confessei à minha mãe que ninguém gostava de mim porque eu não era como eles. Eu era diferente, não via problema nisso, mas não conseguia entender o porquê dos outros não me respeitarem por isso. Então, calma, minha mãe simplesmente disse:
- Vivemos numa sociedade em que, infelizmente, somos julgados pela aparência. Você escolheu ser diferente, arque com as consequências disso, seja forte.
Pode parecer duro e frio da parte dela, mas isso me confortou de uma maneira inexplicável. Após aquele momento eu entendi que o maior mal da Humanidade são os humanos.
Comecei meus primeiros rabiscos de poemas nessa época. A professora de Língua Portuguesa me incentivava muito. Guilherme adorava ler o que eu escrevia. Até hoje somos “consultores literários” um do outro.
E meu orgulho foi maior e continuei a ser o que era: diferente, graças à Deus.
Que Ele me livre de ser normal!
Pintei meu cabelo de roxo. E depois de preto. E depois de vermelho. E depois de preto de novo.
Não tenho muitas lembranças do começo da adolescência. Só lembro de ter pintado o cabelo. Foi um período bem difícil para mim. Eu tinha receio das pessoas. Não confiava muito em mim, apesar de me mostrar sempre como a pessoa mais segura das ideias.
A gente endurece o coração na adolescência para não parecer criança insegura. Queremos nos fazer de poderosos, autossuficientes. E depois descobrimos que queremos ser criança de novo. Entendi isso quando fui à Disney no ano seguinte.
Saí do ballet. Eu tinha o coração, mas não tinha os pés. Minha amiga, a Ana, continuou e dançava melhor que a professora.
Fui fazer Ioga e aprendi a meditar.
Comecei a sofrer de rinite alérgica.
No primeiro ano do Ensino Médio, meus pais resolveram se separar. Um entrou com o pé e outro com a bunda. Eles brigavam o tempo todo.
Essa é uma dor que eu não desejo ao pior inimigo. Não experimentei um sofrimento pior nesse mundo até hoje. Me sentia um equívoco na vida. Perdi as esperanças.
Quatro meses depois, meus pais voltaram a se falar, por minha causa. Eu estava adoecendo e fiquei todo esse tempo sem me encontrar com meu pai.
E, adivinha só, dois meses depois eles voltaram! Sim! Um caso em um milhão. Tive sorte? O Perdão existe, e é possível de ser alcançado. O Amor existe também.
Enveredei-me para os caminhos da dança contemporânea. E que seja perdido o dia em que não se dançou.
Aos dezesseis tive meu primeiro namorado. Ou segundo, se contarmos o pequeno Bruno...
Ele era um cara legal, era músico, tocava jazz.
Achei que passaria a gostar de jazz, mas preferi mesmo ir ao show do Tokio Hotel.
Fiquei doente nesse mesmo ano e faltei duas semanas seguidas à escola. Achei que eu fosse morrer. Tudo bem, não era pra tanto, mas não se brinca com o Citomegalovírus, entendido?
Não sei porque quando a gente se apaixona, acreditamos que o amor vai durar para sempre. Mas depois de um tempo, descobri que “pra sempre” é tempo demais... Gostaria conhecer o tal amor da minha vida no último momento da minha existência aqui. No último suspiro. Aí sim o “pra sempre” é de fato para sempre.
A morte nos torna eternos.
Comecei a ler Clarice Lispector no ano passado. Hoje já somos íntimas.
Meu dente do siso começou a dar seus primeiros sinais de chegada.
E finalmente chegamos ao dia de hoje. Neste momento, numa madrugada quente de verão. Estou sem sono.
Estou com medo. Estou num momento de mudança. Quase um rito de passagem. Estou desesperançada e ao mesmo tempo cheia de esperança com o que está por vir. Estou extremamente curiosa para saber o que há por trás dos meus muros, mais uma vez.
Mudar é difícil, mas a repercução futura é sempre incrível.
Mas, sabe, eu posso ter medo de muita coisa nessa vida. Mas de dar a cara pra bater, isso eu não tenho medo mesmo.
Veja só quantas vezes eu já mudei nessa vida. Nunca desisti de mim.
Não consigo nem sequer imaginar o que está por vir. É o mesmo sentimento de nascer... Depois de tanto tempo estou nascendo de novo. A alma é imortal. E, como disse o poeta, tudo vale a pena quando ela não é pequena.
E de novo. E de novo.
Estou pensando seriamente em pintar meu cabelo de azul...

domingo, 18 de dezembro de 2011

A Hora Perigosa

Ando me evitando. Se me encontro na rua, atravesso-a e desvio de mim. Não mais me cumprimento.
Estou um pouco temerosa em me encontrar. Pode-se dizer que estou bem. Estou calma. Estou em paz, eu acho... Ainda tenho medo.
Evito emoções fortes. Dúvidas, crises... Tenho evitado de me pôr à prova. Estou sem aquele certo prazer de arriscar, de me colocar no mais alto limite. No ápice. Ou no fundo do poço.
Tenho me contentado com o térreo.
Também estou evitando tocar locais muito profundos de mim. Tenho medo daquela hora perigosa que Clarice sempre fala, em que deparo-me com a realidade nua e crua e nego-a. Acho-a absurda. Digo que ela não me pertence, mesmo estando incrustada em minha pele. Negação doentia. Apego maldito com a doença. Gosto por um vício autodestruidor, doença da alma.
Não quero mais ser vítima daquelas típicas emoções minhas, as fortes e descontroladas, tão tipicamente minhas. Não tenho mais forças para lidar com elas, e até mesmo aproveita-las.
Estou tão cansada...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Novos contos românticos

E então ele olhou profundamente em seus olhos, segurou sua pequena mão e disse:
-Eu te amo.
Ela ficou estupefata. Ensaiou palavras em sua boca, mas nenhuma parecia servir. Sentiu seu estômago enjoar. Torceu o rosto assustada:
-Err...Hum, obrigada.


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O telefone tremia em suas mãos. Ela estava demorando demais para atender. Aquele som parecia uma eternidade. Sentou-se no parapeito da janela sentindo o vento no rosto. Olhou para baixo e viu as pessoas miúdas caminhando calmamente lá embaixo.
Ele já estava decidido.
-Atenda. Por favor.
As primeiras lágrimas escorreram por seu rosto.
-Alô?!
-POR FAVOR, MEU BEM! NÃO FAÇA ISSO COMIGO! NÃO ME DEIXE DESAMPARADO NESSE MUNDO!POR FAVOR! VOLTE PARA MIM! VOLTE! EU TE IMPLORO, VOL...!
-Quem tá falando?
-Sou eu, minha querida! Sou eu! Eu vou me jogar da janela se você não voltar para mim! Eu vou me matar! Vou! Não posso viver sem você, Carmem!
-Perdão, mas... Aqui não mora nenhuma Carmem. Eu moro sozinho. Aqui não tem ninguém com esse nome.
-Ahn... Desculpa, foi engano.


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-Hoje já te disse que eu te amo?
-Não... Ainda não...
Seus olhinhos brilharam na esperança.
- Ah, tá. Só pra confirmar.


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Ela veio em sua direção. Levantou a blusa.
-Amor, você acha que eu estou gorda?
Ele a olhou. Analisou. Raciocinou. Fez alguns cálculos mentais.
-Sim. Está.


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Ela tentava segurar o choro. Era difícil suportar o fim.
-... mas é só por isso que eu acho melhor nós terminarmos. - ele disse - O problema é com você, não comigo. Mas nós ainda podemos continuar a ser amigos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Uma nova proposição sobre a Loucura

ou
O QUE SE PASSA EM MINHA CABEÇA DURANTE A AULA DE FÍSICA


Certamente a Loucura é encontrada por nós, num momento de lucidez tão profunda e tão plena que, acabamos por não suportar tais fatos em tamanha profusão que
então enlouquecemos.

sábado, 12 de novembro de 2011

Uma lição de Sabedoria

Se eu pudesse te dar um conselho para a vida, certamente seria esse:
Abre aspas,
Não siga um conselho meu. Em hipótese alguma.
Fecha aspas.

Boa vida.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desparnasiando

Estou farta de vida parnasiana. De vida lógica. De apenas vida pela vida.
Que todo o Olimpo me condene por isso, por ser filha ingrata ao ter uma vida pacata e ainda assim, desgostar da paz, da calmaria, de ver a vida passar, de apreciar a estética das paredes...
Na verdade, eu não tenho paz. Não agüento mais declamar meu tédio em rotineiros versos decassílabos, rimas ricas que escondem a pobreza da mão que escreve. A sujeira por debaixo das unhas, essas que não conseguem ser limpas. A sujeira sempre varrida para debaixo do tapete...
Inconstitucionalissimamente eu devo dizer: cansei! Que tal declaração seja contra os bons costumes, os sarais de piano, os chás da tarde. Cansei!
Tenho fetiches por gente, não por vasos chineses de porcelana.
Cansei de cotidiano. De dormir e acordar por uma mesma razão, para que eu não me julgue louca ao tentar transformar um soneto em um tango, para ter de ficar buscando um sentido lógico para a vida. Cansei!
Quero apenas que a minha vida não faça mais tanto sentido.
Surpreenda-me, vida!

domingo, 6 de novembro de 2011

O Amor

O Amor é aquilo de quando a gente consegue usar do Mal até pra fazer o Bem.

O Medo em sua forma mais primitiva

Sabe uma coisa que mete medo? Medo de verdade?
O Futuro. O Medo em sua forma mais primitiva, na sua perspectiva inexistente.
A incerteza sobre a incerteza. A falta de chão. A falta de certezas.
A falta de criatividade até mesmo para imaginar como "poderia ser"... Sem coragem até mesmo para se iludir por medo de não ser como se imagina.
A falta de certezas.
O risco por algo incerto. A aposta feroz em algo que não se sabe se dará certo. Deixar-se levar pelo destino. Perder as poderosas escolhas. Seguir um caminho simplesmente para continuar.
A crença irrefutável naquilo que não se tem certeza. Ter que se convencer com as coisas incertas, talvez inexistentes. Talvez ilógicas.
Confiar na Desconfiança e desconfiar da Confiança.
E, principalmente, perder o controle. Daí o Medo.
Viver para sobreviver. Tremer no passo seguinte.
Hesitar e assim mesmo se arriscar.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Consoada

(inspirada na xará de M.Bandeira.)

Quando a indesejada da gente chegar
(Não sei se dura ou caroável
[talvez dura fingindo-se caroável
{como sempre}])
Talvez eu tenha medo.
Talvez eu sorria (falsamente), ou diga:
-Alô, insuportável!

O meu dia não foi bom, pode a noite descer.
(A noite e a Visita com seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Isso para que nada de ruim possa comentar
Nem seu veneno espalhar
E que da sua vida vá cuidar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Um (re)Encontro

Queria te ver mais uma vez...
Só te ver. Te observar de longe.

Queria que você me visse,
Só me visse.

Depois de vermos tanto tempo passar,
Queria te ver mais uma vez,
Apenas para ver se você ainda se lembra
De quando eu te via todo o dia,
E eu...
Eu apenas... Você não me via.

Queria que você me visse,
Só me visse...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Minhas Férias

Preciso de férias. De um tempo.
Preciso de um tempo para mim, mas sem mim. Preciso de férias de mim.
Quero sair, ir para algum lugar novo. Não sei para onde. E não me pergunte! Quero apenas ir... Qualquer lugar é melhor que aqui.
Na verdade eu não quero ir para um lugar desértico, onde eu possa passar o dia contemplando a beleza da inexistência, do nada.
Nada de spa de embelezamento mental.
Se pudesse escolher, iria para um lugar bem agitado, abalado violentamente por tremores de vida na Terra. Compromisso da manhã à noite. De madrugada à madrugada.
Qualquer coisa que ocupe minha cabeça de mim mesma. Chega de pensar tanto em mim mesma. Sobre mim.
Para mim.
Quero me esquecer um pouco, me dar um pouco de paz. Uma dose de amnésia pra minha preguiça. Preguiça de me olhar no espelho.
Já cansei da minha companhia. De ficar comigo. De conversar comigo. De estar comigo.
Estou de saco muito cheio de mim. Eu sou tão previsível...
Quero ficar sozinha com os outros. Que eu saia de mim. Chega de mim!
Cansei de mim.

sábado, 8 de outubro de 2011

Lira dos Dezoit'anos

Não sei o que quero,
Mas sei o que não quero.
Eu quero ter voz ativa,
No meu Destino mandar,
O mundo cresceu.
O tempo cresceu
A vida...
E o ponto de vista de uma vida
É o futuro e nada mais.
O Medo e a Coragem
De ser tudo e não ser nada ao mesmo tempo.
A dor de não poder ser.
O prazer de existir.
Não quero ser nada,
não posso ser nada,
À parte isso, tenho todos os sonhos do mundo:
Ter dinheiro
Para comprar um par de botas
E um Ray Ban bem bonito,
Uma mala grande
Pra viajar pra Europa
E carregar a saudade do que foi,
Do que não foi,
De uma vida inteira
Que poderia ter sido,
Se foi ou não, não sei,
Mas será.

sábado, 1 de outubro de 2011

A Teoria do Choro

O choro é doloroso como o ato de morrer. Sofre-se com a dor do choro pois é o momento de desencarnação da tristeza.
Tirar da carne uma tristeza nunca é fácil... Chorar é o momento em que perde-se os pudores, desarma-se. Perde-se o medo, a vergonha, a coragem. Ao mesmo tempo, fortalece o coração, os pulmões ao assumir-se a dor e sentir o alívio da aflição. Angústia vai embora com a água da lágrima. O sabor salgado da lágrima quando toca a língua imediatamente é sentido pela alma e codificado pelo cérebro como pacificação interior. Perde-se o medo do medo. De si mesmo.
Após o choro, morre-se na escuridão. Misericórdia Divina acolhe. Os olhos cansam, pegando fogo. Fica difícil de tentar respirar. O corpo não responde pois perdeu as forças.
O choro não cura.
Não cura, mas salva.
Acostuma-se com a dor após chora-la. Muitas vezes até descobrem que ela nem era tão grande e problemática assim. Ou era.
Após isso, ela pode ser enfrentada ou esquecida. Para desta forma então ser curada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A Fé

Toda noite, antes de pegar no sono, eu fecho os olhos e rezo pra Deus:
- Senhor, obrigado por ter me feito artista!
- Fazei-me um instrumento de vossa Arte.
Amém.

Fisiologia

Estou fatigada, com falta de ar! Cansei dessa coisa de meu coração só ficar batendo para enviar sangue ao resto do corpo. Essa é a utilidade menos importante do meu músculo cardíaco.
Sempre o mesmo ritmo, colérico, tedioso. Lento.
Eu quero meu coração disparado! Acelerado, extra-sistólico. Você como oxigênio para as minhas células.
Eu quero me apaixonar! Quero minhas mãos suadas, meu estômago enjoado pra quase te vomitar. Quero meus joelhos trêmulos quando meus olhos te encontrarem. Quero virar o tronco toda vez que seu perfume chegar às minhas narinas corroídas.
Sua mão na minha cintura, sua epiderme queimando a minha. Mucosa e saliva. Minha unha na sua carne.
Seu sangue, seu suor, suas lágrimas, suas vísceras da alma.
Suas palavras na minha boca. Quero amor!
Chega de pneumotórax, quero é dançar um tango argentino!

Cotidiano

Dias quentes, modorrentos.
Tédios, roubam minha energia improdutiva.
Têm passado mais devagar que o comum
Se arrastando pelo calendário.
Noites, ao contrário,
Passam extremamente rápidas
Diminuindo meu tempo para descansar de mim mesma
E sonhar meus sonhos agradáveis quando possível.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Buteco II

‎- Garçom, vê uma dose de Arte com bastante gelo pra minha vida aqui, façavor.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta ao Ondjaki

Qualquer lugar no amanhã, dezessete de setembro de dois mil e onze e alguns segundos.

Caro amigo Ondjaki,

Não lhe pedirei linceça para chamar-te de amigo. Certamente já somos, após sermos apresentados ao seus tão puros sentimentos para com os da sua rua. Emocionei-me com sua tamanha simplicidade e pureza da primeira à última sílaba.
Te escrevo do meu coração, exatamente naquele pedacinho das emoções mais fortes já sentidas por ele. Te escrevo pela minha gratidão.
Obrigado, eternamente. Obrigado!
Obrigado por ter ressuscitado minha pequena interior. Obrigado! Eu estava quase me esquecendo dela e me entregando ao exterminador mundo das gentes grandes...
Suas puras palavras fizeram com que eu compreendesse o sentimento da alegria. Digo-te isso porque pego-me tantas vezes buscando essa tal alegria em lugares tão inóspitos, quando de repente percebo que a alegria de uma criança não muda, não precisa de justificativa. Por que endurecemos assim quando vamos crescendo? Não sei e ainda não entendo. De qualquer forma ainda desejo para mim o riso espontâneo de uma criança feliz. E também o choro, porque não quero guardar mágoas e dores dentro de um peito. Mas sabe, lembrei-me também de muitas cenas da minha infância, na qual não fui nada mais que feliz, preocupando-me apenas com não me preocupar com nada. Lembrei-me de tanta coisa que essa realidade tinha afastado... Um dia, entrei escondida no quarto da minha avó e comecei a mexer em tudo o que pude naquela gigantesca prateleira de perfumes que ela tinha e ainda tem. Cheirei todos os aromas que pude, era um sonho da minha infância poder brincar com todos aqueles perfumes e essências. Foi o ápice da minha glória. Confesso que, mesmo depois de dezoito anos e um dente do siso, fiz isso novamente há umas semanas atrás. E o sentimento foi o mesmo. Exatamente o mesmo. Da adrenalina de ser pega e o orgulho de cumprir a missão. E a casa da minha avó ainda cheira à poeria e massa de pão.
Eu era feliz e não sabia. Sou feliz, mas não na perfeição que fui quando criança. Eu não precisava procurar pela felicidade. Ela vinha espontaneamente, com qualquer coisa e situação.
Quando pequenos, queremos crescer. Quando crescidos, queremos voltar a ser criança. É uma condição humana. Encantamo-nos pela liberdade dos adultos, mas na verdade a temos em nossas mãos quando crianças: somos livres para ser feliz, não importa seja lá o quê.
Obrigado por me lembrar da felicidade pura. Essa bruta, sem lapidar que surge de um riso.
Desejo que você jamais perca sua capacidade de rir e sonhar! Que nenhuma delas falte no seus caminhos, por mais tortuosos que sejam. Um grande abraço.

Sua amiga,

Maria E.

domingo, 11 de setembro de 2011

Somniu

Eu ainda exagero nos sonhos
e acredito nas coisas impossíveis,
 porque se eu acreditar na realidade
certamente enlouquecerei.
 Ou já enlouqueci
em ainda acreditar
em um mundo irreal...

Cálice

Este é apenas um lembrete para mim e mais ninguém, porque cada um cuida do que é dito seu, mas enfim... Favor eu mesma lembrar a mim mesma de calar minha santíssima boca.
Sim!
 Já dizia minha avó que boca fechada não entre mosquito (ou qualquer outro inseto de sua preferência, que seja). E é uma evidência da vida que a palavra lançada não volta atrás, mas nem que você a arraste. Que se conserve meu prazer pelo meu bom e velho silêncio de minha voz. Nada vi. Nada ouvi. E principalmente, nada falei. Apenas o silêncio de dentro da minha cabeça.

domingo, 28 de agosto de 2011

Um possível pedido de desculpas e/ou uma desculpa

Queria te pedir desculpas. Ou arranjar uma justificativa para a minha culpa. Quero mesmo é te explicar: eu nunca quis te magoar.
Você sabia que eu era confusão? Pois se você não sabia, fica aqui confirmado: “Encrenca” é o meu nome do meio. Eu não presto.
É que eu não sou uma pessoa muito fácil... Meu tipo de confusão não é aquele comum, de já chegar bêbeda no bar gritando pelo teu nome, quebrando garrafas de vidro na cabeça dos boêmios, com a meia de seda desfiada, a maquiagem borrada e um par de sapato na mão. Não. A minha confusão é a pior de todas: é aquela escondida, a que não se identifica logo de cara. Uma coisa meio “bonitinha, mas ordinária“.
Sou do tipo que faz as coisas sem pensar e depois se arrepende porque difícilmente dá certo. Sou impulsiva. Sempre vejo as conseqüências de forma que elas sejam favoráveis. Eu não tenho muita noção de perigo, nem muita vergonha na cara.
Outra coisa é que eu sou inconstante. Eu não tenho medo de mudar. Seja de roupa, seja de opinião. Adoro e me iludo com qualquer tipo de novidade para o meu cérebro. Falando nisso, ilusão é outro problema. Eu tenho uma facilidade para colocar as pessoas num altar santificado que só vendo! Eu acredito que todo o mundo é especial, é diferente, único e inigualável... E sou complacente também, o que nos faz retornar à impulsividade. Se eu fosse você, eu não confiaria muito em mim.
Mas eu jamais seria capaz de ser infiel a você, tanto que jamais o fiz. Muito pelo contrário, eu acreditei demais em você. E você fez o mesmo por mim, de forma que acreditássemos que eu, uma menina, seria capaz de te satisfazer como uma mulher. Por Deus, como você pôde?!
Você fez com que eu confiasse em mim, mesmo eu sabendo que jamais poderia te oferecer o que você desejava. Mas eu estava iludida, e conseqüentemente cega, surda e muda. Como negar?
Eu nunca te traí, mas tantas foram as vezes que eu traí a mim mesma. Sou rancorosa, ainda não consegui me perdoar.
Existe coisa pior nesse mundo do que trair a si mesmo?
Só ser traído.
Mas de qualquer forma, eu nunca quis ter te machucado. É que nem eu confio em mim, e a confusão por aqui é instaurada. Não tenho solução. Gosto de procurar problemas e quando não procuro eles vêm até mim, mesmo que eu não tenha nada a ver com eles, sendo eu apenas uma presença indispensável para que eles ocorram.
E agora não reclame de ter que ficar ouvindo a Amy dizer: “eu te disse que ela era encrenca, você sabe que ela não presta”.

sábado, 20 de agosto de 2011

Freud, explique por favor:

Queria enlouquecer de verdade. Ter um diagnóstico de loucura pelo psiquiatra mais renomado. Ter delírios mesmo! Começar a falar com objetos inanimados, babar. Gritar bem alto, até sair correndo pelada pela rua. Pelo menos assim acho que não teria que me justificar tanto para os outros...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma Imperfeição que é Perfeita

Tão perto,
Estávamos tão longe.
Agora,
Tão longe,
Estamos tão perto.
Somos, portanto,
Uma imperfeição que é perfeita.
Somos, assim
E enfim.
Por isso nada mais importa,
Somos, então,
Perfeitos.

Dente do Siso

Na parte inferior, mais especificamente do lado direito. Está desabrochando com uma rosa, mas sem pétalas, apenas espinhos.
Cacete! Tá doendo! Incômodo constante, mucosa inchada, com direito à dor de cabeça e tudo. Dói tanto assim pra ter juízo?
Dói.
Dói, porque não adianta, aprendemos na dor e tem que doer para aprender.
Tem que incomodar para entender, para voltar atrás e assumir o erro e pedir perdão para nós mesmo ao admitirmos a fatalidade. Nunca é fácil, o Orgulho não deixa pois medimos as conseqüências de formas que elas sejam favoráveis. Nos arriscamos demais. Por isso dói. Porque caímos nas nossas próprias armadilhas e a vida não facilita.
Não sei ainda se juízo é o fato de medir conseqüências ou apenas o fato de não repetir o mesmo erro depois de aprender com o risco. Mas não temos nós que nos arriscar e nos transgredir para nos tornarmos melhores, mesmo que seja para tomar uma decisão errada e aprender uma boa lição ou até mesmo para nos conhecermos melhor?
Nos arriscamos para aprender a viver.
O que é então o juízo e o que é viver? Vivemos, querendo ou não, pelo prazer do risco.
O risco é simplesmente perder o juízo por alguns minutos e se entregar a uma crença que nunca foi posta em prática, perder o medo, se entregar uma paixão, tentar recomeçar sob um novo ponto de vista. Seria então o juízo o ato e o fato de saber a hora certa de ousar?
Ainda não sei. Se for assim, eu ainda não tenho o mínimo juízo. Talvez se um dia eu tiver juízo em saber ou em responder... Em ousar responder...
O quanto eu terei de viver para isso?
Quem sabe eu pense duas vezes mais antes de agir com essa dor de dente. Não está sendo fácil também para o meu ciso ter de parir o meu juízo.
Quantos cisos, quantos riscos e quantas dores serão necessárias para eu aprender? Para eu aprender o quê? Vou parar de aprender depois que meu dente nascer?
Quantas vezes eu terei de nascer para aprender?
Não sei, não sei!
Só me lembre de ligar para o dentista para marcar uma consulta. Quem sabe ele possa me receitar um analgésico. Quem sabe ele tenha alguma resposta.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma História de Amor

Pessoas certas,
Na hora certa.
Um plano estrategicamente preparado pelo Destino
Para um encontro perfeitamente desastroso.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma Necessidade

Sinceramente, eu quero viver.
Não é só um ato de desejo, é quase uma necessidade que grita dentro de mim pedindo misericórdia.
Pode ser um estado maldito de rebeldia, um querer ir para sentir saudade e querer voltar, ou mais bela necessidade de uma transgressão, mas eu perdi esse medo de errar. Nasceu em mim a imortal vontade de viver.
Consequentemente, me apaixonei perdidamente pelo ato de arriscar. Ousar é algo que me encanta e sempre me encantou. Tenho um caso de amor eterno por esses iconoclastas, sabe...
Conhecer novas experiências,surpreender-se com a rotina de uma loucura me é um desespero, tão necessário quanto moléculas de oxigênio. Meu cérebro clama por novidades, por surpresas, por inteligência, por qualquer outra coisa que não se encaixa na velha categoria do mesmo-de-sempre.
Sinto-me maior que a Luz, que o Som, que os furacões, que os sóis! Pode parecer um desarranjo mental para os olhos dos sensatos (mas nem sempre sábios), esse fato de eu ambicionar aventuras da vida. Muitos não entendem essa minha necessidade de querer ir pro mundo e escrever minha História com minhas próprias letras, produzidas pelo esforço do meu próprio punho.
Eu sei o que sou, e quero provar disso. Do doce e do amargo. Quero viver! Quero sentir aquele medo, ver minhas forças sumirem e subitamente eu descobrir e conseguir recupera-las. Considero isso uma das coisas mais belas do mundo.
Posso ter medo de qualquer outra coisa, mas medo de ousar, de errar, de aprender, de melhorar, ou ainda errar e ainda confiar naquilo que acredito e não desistir.
Vou provar para mim mesma que eu sou capaz do impossível. É só uma questão de tempo.
Quero mesmo é acreditar em mim.
Sinceramente, eu quero.

domingo, 1 de maio de 2011

Simplicidade

A vida é extremamente certa e simples: nascemos, vivemos e morremos.

A questão é a parte do "vivemos"...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Elemento

Eu queria o gelo.
Derreteste-me.
Fiquei morna,
Incolor,
Inscípida,
Inodora.
Agora eu quero o fogo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um Boteco

- Garçom! Me vê um copo de Lógica com gelo e açúcar pra minha vida aqui... Obrigado.

domingo, 17 de abril de 2011

Desabafo

- Tá tudo bem com você? Aconteceu alguma coisa que te deixou assim?
- (Não, eu não estou bem. Estou no meu limite. Não posso mais suportar. Estou prestes à explodir. Minha cabeça dói, meu peito está dilacerado, aberto, infectado. Estou corroída. Estou acabada. Fico louca, tenho medo de mim. Sou ingrata de mim mesma e de todos. Sou egoísta, exijo demais de mim e acabo por nunca dar o meu melhor. Não consigo acreditar. Tenho algumas dificuldades para acreditar que meus sonhos se realizarão, se é que ainda me restam sonhos... As dificuldades mais me desanimam do que me motivam. Tenho medo de me frustrar, meu orgulho me cega. Não consigo confiar em mim. Acho tudo extremamente artificial, programado. Tenho duvidado até mesmo do Amor. Duvido das promessas. Principalmente aquelas que um dia eu fiz. Jurava que conseguiria cumprir... Isso é terrível. Nada parece me satisfazer. Eu sempre quero mais, mais, mais! Estou insatisfeita com tudo! Desde as pulgas do cão do vizinho até o Governo Federal. Quero mais que a Liberdade, que o Amor, que a Felicidade. Acho tudo impossível, tudo inacreditável. Culpo a todos, mesmo sabendo que a única culpada aqui sou eu. Não sei me perdoar. Não sei amar. Acho que ninguém sabe me amar. Sempre que preciso, sempre estou à disposição de ajudar quem necessita. E quando chega a minha vez? Onde estão todos para me ajudar? Tenho que parar de exigir tanto assim das pessoas.Quero demais que elas tragam a solução para todos os meus dilemas porque eu estou fraca demais para procurá-los. Isso só piora o horrível. Só piora a mim mesma. Acho todo mundo hipócrita. O mundo me assusta. Não consigo encontrar um lugar para me fixar, um lugar em que eu me sinta bem, pessoas com que eu posso ser eu mesma sem medo de dar explicações sobre o que eu faço, o que eu sinto. Tenho tudo isso debaixo do meu nariz, mas nunca consigo enxergar. Estou cega. Estou burra. Meus joelhos bambeiam, minhas mãos tremem, meus olhos se enxem de lágrimas o tempo todo. Estou angustiada, temendo cada segundo. Por mais que eu negue, tenho muito medo de decepcionar os outros. Mais decepciono do que concedo alegrias. A impressão é que todos fogem de mim. Todos estão felizes, plenos, menos eu. O que eles fazem para me ajudar? Nada. O que eu faço para me ajudar? Nada. Fico parada esperando as respostam caírem em meu colo, junto ao meu príncipe encantado. O inferno são os Outros. E eu também. Não me suporto. Me mando calar a boca mais de 10 vezes por dia. Me perturbo demais. Que ridículo! Como eu sou ridícula. Como sou inútil. Descobrir e aceitar a mediocridade humana não é fácil. Sou legal, sou demais, sou uma idiota. Melhorar-se não é fácil. Principalmente quando eu percebo que não estou surtindo efeito em mim mesma. Sou um efeito colateral na minha vida. Sou uma vergonha para mim mesma. Onde está minha autoestima? Ela existe? Feio que se acha bonito é sinal de autoestima? Não suporto esse tipinho de gente. Não suporto você, nem essa sua preocupação falsificada pelo meus sentimentos. Ninguém se importa com ninguém. Pelo menos me dê essa alegria de parar de fingir que você se importa comigo! Me desiluda, mesmo que seja sinceramente. Estou cansada de máscaras, das suas, das minhas. Nós todos vamos morrer no final mesmo! Me deixe estraçalhar esse vaso na parede, sim? Me deixe em paz.) Não aconteceu nada. Estou bem.
E um sorrisinho estupidamente falso.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ando

Adiando, adiando, adiando...
Enquanto isso,
só,
observo a vida passando.

domingo, 27 de março de 2011

Encontros

E eu me encontrei tanto em mim mesma que, no final, acabei me perdendo de mim.
Quando dei-me de cara comigo mesma, nem me reconheci. Sequer não me conheci.
Não me conhecia. Eu nunca havia sido quem eu queria ser.
Eu não sabia quem eu era. Nem se era.
Até hoje não sei.
Passei grande parte do tempo tentando me desencontrar. Fugia de mim. Corria desembestada para longe de meus próprios desejos, de minhas intuições.
Mas um dia eu resolvi por bem de minha sanidade, e por uma certa curiosidade, me ser.
E me fui. Me encontrei. Destemi-me.
Quando eu finalmente me tornei aquilo que meu coração me mandava ser, e, por uma certa disciplina e respeito ao próximo eu não me dava o luxo de ser, eu me encontrei. Mas fiquei completamente perdida.
Me encontrei com aquilo que sempre me foi abstrato: eu mesma.
Presenteei-me com o mais sonhado dom e vocação do Homem: a Liberdade.
Me perdi com o presente. A Liberdade me assustou. Não sabia lidar com ela.
Desencontrei-me de mim. Nem sabia mais como lidar com aquilo que eu era.
Ao me encontrar com aquilo que eu realmente prometia ser a mim mesma, com aquilo que eu sonhava ser, com a Liberdade de me ser, me perdi. Estava acostumada do jeito passiva que sempre fui.
Intensa e insensata, como meu coração sempre sentia ser, eu não sabia como ser.
Eu não sabia como agir! Meu antigo ser controlador queria me bloquear, me contestava, me impedia, me proibia.
E eu continuava impulsiva me sendo loucamente.
O que fazer comigo?
Quis o mais rápido possível me acorrentar novamente à mim, mas já era tarde. O sabor da Liberdade é viciante. Uma droga que quando experimentada pela primeira vez já causava vício. Por que deixar de ser aquilo que eu sempre quis, não é mesmo? Já havia jogado as correntes fora à muito tempo. Não há como voltar atrás quando se ganha a Liberdade.
Principalmente a de se ser.
Mas o que se fazer quando se tem a Liberdade, e não se sabe utiliza-la?
De que adianta?
Me perdi. Eu não sabia me ser.
Não sabia me controlar, só queria ser, ser, ser, ser. Ao mesmo tempo que queria me controlar e me esquecer, tinha a curiosidade de saber o que era aquela centelha na verdade.
Perdido e encontrado se encontram. E eu estava perdida, sem saber como separá-los.
O vitorioso: eu. O perdedor e, à morte: eu.
Eu, contra mim mesma.
Desanimada, concluí que tanto fazia. Dei de ombros e não fui ninguém!
E me encontrei novamente, decidida.
Decidi me ser, apenas,confiar em mim. Nada mais.
Continuo sendo em paz.
Bem, não tão em paz assim.

Coisas

Coisas que instigam:
- Ocultismo

- Sexo

- Uma placa de “Não Pise na Grama”

Coisas que desanimam:

- Um domingo de chuva

- Um “não” bem dado

- O espaço entre o Final e o Início

Coisas que todos possuem:

- Dores

- Pintas

- Sonhos

Coisas irrevogavelmente fofas:

- Andar de mãos dadas

- Ursos

- Bochechas do Tom Kaulitz

Coisas perdoáveis se roubadas:

- Comida

- Livros

- Flores

Coisas que as pessoas detestam ganhar:

- Meias

- Sabonetes

- Um sorriso falso

Coisas irritantes:

- Respiração

- Mastigação

- Moda

Coisas fúteis que todos adoram:

- Falar da vida alheia

- Bichos de pelúcia

- Assinaturas

Coisas maravilhosas:

- Ver as letras se juntando para formar uma palavra

- Acreditar

- E não desistir

Coisas que jamais vamos entender:

- A razão de se aprender Álgebra

- O sentido da vida

- Peixes em um aquário

O Pedido, o Conselho e a Ameaça

O PEDIDO:
Por favor, cuide do coração que eu te dei.

O CONSELHO:
Saiba que receber um coração, de quem quer que seja, é uma honraria. Principalmente vindo de minha parte. Não sou de sair distribuindo coração para qualquer mortal... Confesso que, às vezes, ele é roubado, mas eu protesto, e pego de volta. E os únicos que o roubaram e não devolveram cuidam dele muito bem, por sinal.
Mas voltando às honras, saiba que se eu lhe dei meu coração foi porque você mereceu de fato. Você é digno de cuidar de um coração. Logo, peço que você cuide muito, mas muito bem dele. Ele é sensível. Ele é desconfiado. Desculpe. É uma defesa.
Trate-o com carinho, paciência e compreensão assim como eu trato o seu. Tem de ser recíproco.
Não jamais o veja como um troféu! Não é apenas um coração. Ele ama. E precisa ser amado. Não é um objeto que se ganha. É um coração. É Amor que se ganha. É uma questão de honra ganhar um coração, e não de vitória.
Ele também não foi dado para ser dominado. Ele tem o direito e o dever de sentir o que quiser, a emoção que sua razão bem entender, sabe-se lá quais são as razões de um coração, se é que elas existem... Principalmente um que bate livre, no ritmo que bem quer. O meu coração quer muito, muito mesmo viver ao seu lado, mas livre. Ele tem esse direito e esse dever. E eu tenho também. Você também tem.
Por último, mas não menos importante, não use meu Amor como um válvula de escape! Não extravase suas dores e nem busque curas para elas nele. Esse é o caminho perfeito para a decepção. Não use minha boa vontade contra mim. Esse é o caminho perfeito para minha autodestruição.
Encare os relacionamentos como uma brincadeira divertidíssima do Destino, como um complemento à Felicidade, não a própria. Fica mais divertido assim. Fica mais fácil assim.
É uma questão de honra cuidar do meu coração, ele que já sofreu tanto...
Eu e ele queremos amar em paz apenas...

A AMEAÇA:
A verdade é que meu coração quer muito te amar. Ele já te ama, mas pode amar mais, com todas as forças se você trata-lo devidamente como merece. Senão, a solução é simples.
Eu o tomo de volta, e não devolvo nunca mais!

O Melhor Jeito

Já ouvi muita gente dizer que o melhor que se há de fazer quando se quer mudar é encontrar uma nova direção.
Outras pessoas dizem que encontrar um destino é de fato o melhor jeito de mudar nossas vidas...
Pessoalmente, eu acredito que o melhor jeito de mudar é mais fácil que tudo isso. Não é necessário encontrar um destino, sequer uma direção...
O melhor jeito de mudar é simplesmente não ficar parado.
O melhor jeito de mudar é não se acomodar com o orgulho, esses dogmas que criamos para impedir a nós mesmos de sermos o que somos, por alguma proibição sabe-se lá de quem ou do quê ou porquê.
Temos de seguir em frente, sem medo de magoar o que nos foi uma verdade incontestável no Passado. Seu próprio nome já diz, já passou. Não se deve ter vergonha dele. Não peça licença e ultrapasse-o. Não se estacione!
Temos de seguir em frente, sem medo de vivenciar o Presente. Seu próprio nome já diz, o Presente é um presente. Aproveite cada milésimo de milésimo de segundo, sejam eles de luta ou de glória. O presente sempre serve para alguma coisa.
Temos de seguir em frente, sem medo do Futuro. Seu próprio nome já diz, o Futuro é sinônimo de o que há de se suceder depois do Presente. O Futuro é uma nova chance que nos é dada de presente. O Futuro é Agora.
O melhor jeito de mudar é ousar mudar ao lançar-se o desafio de superar ninguém menos do que a si mesmo, meu caro. Assuma os defeitos, não discuta tanto consigo.
Não podemos ser questões de vida ou morte para nós mesmos. Temos que ter urgência apenas em ter consciência de nossas próprias limitações, para que um dia possamos destruir a todas elas.
É proibido temer a si mesmo. As intuições não acontecem por acaso.
Tal como fome ou sede, transgredir é uma condição humana. Devemos ser humildes o suficiente para que possamos aceitar essa infinita necessidade de transgredir a nós mesmos. Essa incessável necessidade de mudar.
Aceitar e acreditar na possibilidade e no poder de melhora que uma mudança pode causar, seja ela boa ou ruim, já é não ficar parado.
A necessidade de querer ser algo melhor já é não ficar estagnado. Pode ser difícil no começo, mas um dia nos acostumamos. E quando começarmos a nos acostumar já era hora de mudar de novo. O Medo é uma defesa contra perigos, porém existem milhares de receitas contra as dificuldades da vida, sendo que nenhuma delas é comprovada. E dificuldade após dificuldade, desafio após desafio são coisas que nos transformam, nos mudam, nos melhoram.
Ficamos tanto tempo estagnados buscando uma direção ou um novo destino para nossas vidas que acabamos por esquecer do principal: seguir em frente.
O melhor jeito de mudar é encontrar uma nova direção e um novo destino todo o dia.

segunda-feira, 21 de março de 2011

"ODEIO FRASES FEITAS."




-Eu mesma.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Manifesto Contra o ''Fazer Feliz''

Artigo Primeiro: O ato de "fazer feliz" não existe nem nunca existiu. Que a partir de agora todas as malignas expectativas se explodam!
Isso nunca existiu!
"Fazer feliz" é uma perfeição que não existe.
"Fazer feliz" não existe. Fica proibido julgar a graditão de uma ilusão.

Artigo Segundo: Colocar expectativas de sobrevivência em outro é quase um pecado.
No mundo em que vivemos, em que temos de sobreviver antes de sermos felizes faz com que as pessoas não sejam tão "altruístas" assim. Somos uma criação da carência. Clamamos por amor. Mas temos de entender: nossa felicidade não depende de ninguém, a não ser de nós mesmos.

Artigo Terceiro: Amar desmoderadamente é doentio, não é bonito. Fica TERMINANTEMENTE proibido que se coloque qualquer tipo de expectativa de cura no próximo. Perfeição não existe, e nem sempre esse próximo colocará o mesmo tipo de expectativa no primeiro. O indivíduo que for pego tendo esse tipo de conduta será condenado à uma decepção sem tamanho para aprender. Não sou eu que estou inventando isso. É uma Lei da Vida.

Artigo Quarto: Se o indíviduo insistir em manter esse tipo de comportamento, que ao menos não se utilize das expectativas de reciprocidade. A existência da espera de uma reciprocidade é dolorosa. É vergonhosa. Sofrimento por escolha. Que nos iludamos daqui para frente apenas com aquilo que se tem certeza. Ou não cobre o preço da ilusão. Aceite os fatos.

Artigo Quinto: Fica proibido a partir de agora, que a felicidade se torne uma dependência!
Chega de obsessão. Não mais sufoco!
Que se respeite o ato do outro decepcionar! Que nos decepcionemos mais para aprender que perfeição não existe.
Ninguém aqui é perfeito. Que o "fazer feliz" seja uma junção das felicidades de cada um, não mais das curas de carências.
Que a independência da felicidade, que a autoestima e a paz interior contribua para toda e geral felicidade de ambos. De todo mundo. Do mundo todo.

Artigo Sexto: Façamos isso para que as decepções sejam menores, que todos o seres sofram menos. Que todas as alegrias a partir deste momento sejam espontâneas.

Artigo Sétimo: Que o ato de "ser feliz" não mais dependa do "fazer feliz", pois acreditar que outro alguém vai lhe "fazer feliz" é se decepcionar por livre e espontânea opção.


Que assim seja.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Artistas

Eu finjo que está tudo bem e que o problema não é você.
E você finje que acredita.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Quem sou eu

Quem sou eu: jovem, divertida, alegre, brincalhona, amiga, companheira, estilosa, diferente, inteligente, esperta, bonita, confiante, carinhosa, conselheira, humilde, decidida...


Quem sou eu, de verdade: não sei... talvez louca.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Pior Pessoa do Mundo

A pior pessoa do mundo não é mais chata, a mais insuportável, não é a mais impaciente, a mais incompreensiva, a mais insensata. Não são nenhuma dessas. Não é a que leva mais rancor no coração, não é a que nunca se apaixonou. Não é aquela que não tem religião. Definitivamente não é aquela que perdeu os sonhos, não é a que é pobre, não é a que é rica. Não são as pessoas sem filosofia de vida, não são as partidárias obsessivas. A pior delas não é aquela que é se faz santa para ganhar o céu, não é aquela que é verdadeira pecadora e vai direto para o Inferno, não é aquela egoísta, nem a falsa, nem a interesseira, nem a mentirosa. Não é a vilã. Não é a mocinha. Não é a que é má aluna. Não é a sem personalidade. Não é aquela que tem total certeza sobre si. Não é o burro, ou o idiota, o bobo, o sem experiência, o sem educação. Não é o virgem, não é o prostituído. Não é o cego, o surdo ou o mudo. Não é o mais emotivo, nem o mais racional. Não é o mais duro de coração, nem o mais mole. Não é o que finge que as coisas não estão acontecendo. Não é o que inventa as coisas para fugir da realidade. Não é o psicótico, não é o psicopata. Não é o alienista, nem mesmo o alienado.
A pior pessoa do mundo é aquela que exige demais dos outros, e até de si mesmo. Esse é o pior defeito que alguém pode ter, pois é assim que se perde os laços com quem se ama. A pior pessoa do mundo é a que acredita em perfeição.
A pior pessoa do mundo é a que não perdoa.
A pior pessoa do mundo sou eu.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Clarice

Você conseguiu.
Ah.
Você sim, foi a única.
Veja o que você fez comigo. Veja, Clarice. Veja o que você fez sem piedade com toda a minha existência.
Por que é que você existe, Clarice? Por que é que você é imortal?
Como é possível?
Como é possível eu sentir falta do cheiro do fogo do seu cigarro de toda a madrugada, toda madrugada? Sinto saudade do jeito como você o segurava, com os dedos tensos com pudor e paixão e como seu polegar batia as cinzas, de como seus lábios beijavam pra fora de sua boca a fumaça. De como você sorria.
Quero que você me carregue em seu colo como você carregava sua máquina de escrever, como se fosse um filho. Com tanto amor e vida. E que me conte mais uma vez os segredos das vidas. De todas elas, pois você foi a única que conseguiu tocar o meu coração por inteiro. E nem foi de mansinho. Foi como uma bomba, uma explosão vulcânica, assim, de repente, sem piedade. Sua lava queimou meu coraçãozinho. Queimou meu cérebro, minhas entranhas, minhas veias, meu sangue.
Você foi a única que conseguiu me confundir. Bagunçou tudo. Me desiludiu.
Você foi a única que conseguiu me mostrar a realidade como ela, da forma mais simples, da beleza nessa loucura. E as pessoas te acham hermética por isso... É até engraçado. Me alienou para que eu pudesse ver o mundo de outra forma, porque esse era seu prazer. Daquela forma que só você sabe ver e que você confiou que eu, apenas eu, pudesse enxergar. E eu consigo.
Clarice, tenho raiva de você. Esse seu jeito me dá raiva. Sua beleza me dá raiva. Seus olhos me dão raiva. Sua calma me dá raiva. Sua raiva me dá raiva. Seu olhar me deixa possessa! Sua simplicidade me deixa louca. Essa tal complexidade me dá vontade de cortar os pulsos com uma colher de pau. Mas eu não tenho a mínima coragem de te mandar embora, de te dar, de te fechar.
Você me hipnotiza, você me entende. Você me consola, Clarice.
Me jogue na dor novamente, Clarice. Me jogue dentro de mim, mas uma vez, para eu encontrar as respostas e me perder. Eu amo o jeito que você me indica o caminho da loucura. Apaixone-me pela loucura mais uma vez. Eu amo me perder! Desse jeito, eu amo ser louca!
Me faça, me obrigue a questionar. Fique apenas parada. Apenas olhe para mim daquele jeito que você sempre olha quando discutimos, quando nossos gritos saem sem por querer e quebram tudo e, mais uma vez, me faça chorar, pedindo perdão. Faça eu me arrastar aos seus pés mais uma vez.
Mas minha timidez ainda vai ousar em questionar se é possível ter raiva de alguém que se quer. Você sabe que é.
Por que é que você teve de ir? Por que? Por que você me abandonou, sozinha, sem resposta alguma para o fim? Por que é que você me faz questionar até mesmo Deus por causa disso?
Tenho muita raiva de você. Muita.
Mas não sou mais capaz de te abandonar. Não sou.
Você é má, Clarice. Você estragou toda ilusão do ser. Você me faz buscar pelos mistérios mais profundos e me desafia a desvendá-los.
Obrigada por isso, Clarice. Obrigada por tudo.
Eu te amo, Clarice. Eu te amo.